A can��o � s� isso: um amor que se consome em chama entre o instante da voz e a eternidade do sil�ncio.
Outros cantadores, quando atuam em p�blico, se trajam de enfeites e "reluz�ncias".
Mas, em meu caso, cantar � coisa t�o maior que me entrego assim pequenininha.
Dessa maneira, menos que m�nima, me torno sombra, desenh�vel segundo tonalidades da m�sica.
Cantar, dizem, � um afastamento da morte.
A voz suspende o passo da morte e, em volta, tudo se torna pegada da vida.
Dizem, mas, para mim, a voz serve-me para outra finalidade: cantando eu convoco um certo homem.
Era um apanhador de p�rolas, vasculhador de maresias.
Esse homem acendeu a minha vida e ainda hoje eu sigo por ilumina��o desse sentimento.
O amor, agora sei, � a terra e o mar se inundando mutuamente.
Amei esse peroleiro tanto at� dele perder mem�ria.
Lembro apenas de quanto estive viva.
Minha vida se tornava t�o densa que o tempo sofria enfarte, coagulado de felicidade.
S� esse homem servia meu litoral, todas viv�ncias que eu tivera eram ondas que nele desmaiavam.
Contudo estou fadada apenas para instantes.
Nunca provei felicidade que n�o fosse em ta�a que, logo ap�s o l�bio, se estilha�a.
Sempre aspirei ser �rvore.
Da �rvore serei apenas luar, a breve cren�a de claridade.[�]
By Mia Couto....