Pensei que fosse f�cil fazer-te um poema, papai.
Mas vejo que tua vida � um poema dif�cil, que a gente n�o pode escrever.
Vejo os calos das m�os que contam hist�rias de enxadas, caminhando
pelos campos; e hist�rias de chinelos, falando uma linguagem, que os
filhos n�o entendem.
Vejo os calos dos joelhos, que contam hist�rias humildes de horas silenciosas, conversadas com Deus.
Vejo as rugas da fronte que falam das rugas da alma como sulcos da terra que as chuvas abriram.
Vejo os p�s cansados, rasgados por espinhos, que a gente n�o v�.
Vejo o calor brilhante do cora��o que sempre nos ama, quando ainda n�o sab�amos amar.
Eu me lembro de um pai, que dorme de olhos abertos pensando no filho, que n�o abre os olhos.
Lembro-me de um pai,
Que varre o lixo das ruas,
Pensando no lixo das casas,
Que n�o pode varrer.
Lembro-me de um pai,
Que bebe suas m�goas na garrafa,
Pensando matar as m�goas da vida.
Lembro-me de papai:
� dif�cil fazer um poema para ti,
Que vives o poema mais lindo.
(Afonso Ritter)