As tr�s crian�as chegaram ao anoitecer. Tristes, traziam nos semblantes as dores choradas por horas. De m�os dadas, adentraram o que lhes seria, a partir de ent�o, o novo lar. A m�e havia partido no dia anterior, no rumo do Mundo Espiritual. O Diretor da Institui��o as recebeu e tentou acarinh�-las, desejoso de compensar-lhes o aconchego perdido. Porque estivessem tomadas todas as camas, ele cedeu a sua para que as tr�s pudessem dormir, naquela noite.
Ele pr�prio se acomodou, de forma improvisada, no mesmo quarto. Adormeceram as crian�as, abra�adas, num intuito de uma a outra darem prote��o.
Na madrugada, algo despertou aquele homem. Abriu os olhos e percebeu um grande clar�o pr�ximo � cama dos pequenos. Tentou erguer-se, mas n�o conseguiu. Uma forma feminina, no meio da luz intensa, lhe disse: "N�o se mexa. Fique a�. As crian�as est�o bem." E deteve-se especialmente, ao lado do menor dos garotos. O mais desalentado daquele trio.
Durante algum tempo ali permaneceu. E o Diretor, cansado, acabou por adormecer outra vez. Quando a manh� sorriu, entrando jovial pela janela, ele despertou os meninos. Enquanto auxiliava o menorzinho a se vestir, percebeu que ele estava muito quieto. Depois, em certo momento, perguntou: "Senhor, minha m�e veio me visitar ontem � noite. O senhor viu?"
O Diretor aconchegou a si o pequeno e consentiu: "Sim, meu filho. Eu vi."
A morte n�o destr�i os afetos, nem os relacionamentos. Os que abandonam o corpo prosseguem de onde se encontram, a velar pelos que permanecem na Terra. Amores profundos se perpetuam e onde quer que haja um cora��o dorido de saudade, o ausente amado se faz presente. Ningu�m est� s�, no Mundo, embora a pobreza dos sentidos nem sempre nos permita o registro dos amados.
Contudo, quando � mente nos assoma a imagem de quem realizou a grande viagem; quando a lembran�a dos amores, repentinamente, nos emociona; quando a saudade embala recorda��es... Acredite: os amores est�o pr�ximos.
S�o suas presen�as que acionam nossos registros mentais e motivam esses quadros doces e acalentadores. Quando isso ocorrer com voc�, feche os olhos, sinta o perfume do amor beijar-lhe a face, e agrade�a a Deus pela d�diva do reencontro. Depois, amenizada a saudade, enxugue o pranto, sorria e prossiga nas lutas, aguardando no tempo o reencontro definitivo, quando as sombras da morte igualmente o abra�arem.
Nando Reis - Espat�dea