O coelho e o cachorro - flog.vip/dannyprincess

Eram dois vizinhos. O primeiro vizinho comprou um coelhinho para os filhos. Os filhos do outro vizinho pediram um bicho para o pai. O homem comprou um pastor alemï¿½o. Papo de vizinho:

- Ahï¿½ Mas ele vai comer o meu coelho.

- De jeito nenhum. Imagina! O meu pastor ï¿½ filhote. Vï¿½o crescer juntos, pegar amizade. Entendo de bicho. Problema nenhum.

E parece que o dono do cachorro tinha razï¿½o. Juntos cresceram e amigos ficaram. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianï¿½as, felizes. Eis que o dono do coelho foi passar o final de semana na praia com a famï¿½lia e o coelho ficou sozinho. Isso na sexta-feira.

No domingo, de tardinha, o dono do cachorro e a famï¿½lia tomavam um lanche, quando entra o pastor alemï¿½o na cozinha.

Pasmo, trazia o coelho entre os dentes, todo imundo, arrebentado, sujo de terra e, ï¿½ claro, morto. Quase mataram o cachorro.

- Ahï¿½ O vizinho estava certo. E agora!? E agora eu ï¿½ que quero ver! A primeira providï¿½ncia foi bater no cachorro, escorraï¿½ar o animal, para ver se ele aprendia um mï¿½nimo de civilidade e boa vizinhanï¿½a. Claro, sï¿½ podia dar nisso.

Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora? Todos se olhavam. O cachorro rosnando lï¿½ fora, lambendo as pancadas. - Ah... Jï¿½ pensaram como vï¿½o ficar as crianï¿½as?

- Cala a boca!

Nï¿½o se sabe exatamente de quem foi a idï¿½ia, mas era infalï¿½vel.

- Ahï¿½ Vamos dar um banho no coelho, deixar ele bem limpinho, depois a gente seca com o secador da sua mï¿½e e o colocamos na casinha dele no quintal. Como o coelho nï¿½o estava muito estraï¿½alhado, assim fizeram. Atï¿½ perfume colocaram no falecido. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianï¿½as. E lï¿½ foi colocado, com as perninhas cruzadas, como convï¿½m a um coelho cardï¿½aco. Umas trï¿½s horas depois eles ouvem a vizinhanï¿½a chegar. Notam o alarido e os gritos das crianï¿½as.

- Descobriram!

Nï¿½o deram cinco minutos e o dono do coelho veio bater ï¿½ porta.

Branco, lï¿½vido, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.

- Ahï¿½ O que foi? Que cara ï¿½ essa?

- O coelhoï¿½ O coelhoï¿½ coelho...

- O que tem o coelho ?

- Morreu !

Todos: - Ahï¿½ Morreu?

- Ainda hoje ï¿½ tarde parecia tï¿½o bemï¿½

- Morreu na Sexta-feira !

- Na Sexta?

- Foi. Antes de a gente viajar as crianï¿½as o enterraram no fundo do quintal!

A histï¿½ria termina aqui. O que aconteceu depois nï¿½o importa. Nem ninguï¿½m sabe. Mas o personagem que mais cativa nesta histï¿½ria toda, o protagonista da histï¿½ria, ï¿½ o cachorro.

Imagine o pobre do cachorro que, desde sexta-feira, procurava em vï¿½o pelo amigo de infï¿½ncia, o coelho. Depois de muito farejar descobre o corpo, morto, enterrado. O que faz ele?

Provavelmente com o coraï¿½ï¿½o partido, desenterra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos. Provavelmente estivesse atï¿½ chorando, quando comeï¿½ou a levar pancada de tudo quanto ï¿½ lado.

O cachorro ï¿½ o herï¿½i. O bandido ï¿½ o dono do cachorro. O ser humano. Sim, nï¿½s mesmos, que nï¿½o pensamos duas vezes. Para nï¿½s o cachorro ï¿½ o irracional, o assassino confesso.

E o homem continua achando que um banho, um secador de cabelos e um perfume disfarï¿½am a hipocrisia, o animal desconfiado que tem dentro de nï¿½s.

Julgamos os outros pela aparï¿½ncia, mesmo que tenhamos que deixar esta aparï¿½ncia como melhor nos convier. Maquiada.

Coitado do cachorro. Coitado do dono do cachorro.

Coitado de nï¿½s, animais racionais.