E como j� dizia Chico Buarque:
�Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo ent�o que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra l�
Roda mundo, roda-gigante
Roda moinho, roda pi�o
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu cora��o�
Todo o resto...
Certo e errado s�o conven��es que confirmam-se com meia d�zia de atitudes.
Certo � ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos anivers�rios, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo � morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado � dar calote, rodar de ano, beber demais, fumar, se drogar, n�o programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo??
Todo mundo teoricamente de acordo, porem a vida n�o � feita de teorias. E o resto? E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de t�o intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emo��es. Ora, meia d�zia de normas preestabelecidas n�o d�o conta do recado. Imposs�vel enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de n�s.
Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por tr�s do nosso autocontrole h� um desespero infernal. Possu�mos uma criatividade insuspeita, inventamos musicas, amores e problemas e somos curiosos, queremos espiar pela fechadura do mundo para descobrir o que n�o nos contaram. Todo o resto.
O amor � certo, o �dio � errado e o resto � uma montanha de outros sentimentos, uma solid�o gigantesca, muita confus�o, desassossego, saudades cortantes,,, necessidade de afeto e urg�ncias sexuais que n�o se adaptam as regras do bom comportamento. H� bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra vers�o da nossa historia, caso viessem a publico. Todo o resto � o que nos assombra, as escolhas n�o feitas,,, os beijos n�o dados, as decis�es n�o tomadas, os mandamentos que n�o obedecemos, ou que obedecemos bem demais � a troco de que fomos t�o bonzinhos? H� o certo, o errado e aquilo que nos da medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entorpece. O certo � ser magro, bonito, rico e educado. O errado � ser gordo, feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com estes reducionismos, e nossa fome por id�ias novas, e nosso rosto que se transforma com o tempo, e nossas cicatrizes de estima��o, nossos erros e desilus�es.
Todo o resto � muito vasto. E nossa porra-louquice, nossa aus�ncia de certezas, nossos sil�ncios inquisidores, a pureza e inoc�ncia que nos mantem vivas dentro de n�s mas que ningu�m percebe, s� porque crescemos. A maturidade � um �libi fr�gil. Seguimos com uma alma de crian�a que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto � tudo aquilo que ningu�m aplaude e ningu�m vaia, porque ningu�m v�.
Um dia agente cansa de amar e n�o ser amada
De pedir aten��o
De esperar um elogio
De olhar sozinho para o horizonte
De ser desejada
De receber declara��es de amor
De esperar uma atitude bonita
De ser surpreendida com uma flor,um bilhetinho,um bombom
Um dia agente cansa de amar
Um dia...simplesmente agente cansa!