H� horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensa��o de
inutilidade, de vazio. Questionamos o porque de nossa exist�ncia e nada
parece fazer sentido. Concentramos nossa aten��o no lado mais cruel da
vida, aquele que � implac�vel e a todos afeta indistintamente: as perdas
do ser humano.
Ao nascer, perdemos o aconchego, a seguran�a e a prote��o do �tero.
Estamos, a partir de ent�o, por nossa conta. Sozinhos. Come�amos a vida
em perda e nela continuamos.
Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades
nos surgem. Ao perdermos o aconchego do �tero, ganhamos os bra�os do
mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos
destr�i. E continuamos a perder e seguimos a ganhar.
Perdemos primeiro a inoc�ncia da inf�ncia. A confian�a absoluta na m�o
que segura nossa m�o, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas
porque algu�m ao nosso lado nos assegura que n�o nos deixar� cair... E
ao perd�-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por qu�? Perguntamos
a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos
janelas, irremediavelmente deixadas para tr�s.
Estamos crescendo. Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer,
morrer.
Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros.
Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando
algo nos � tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer
absolutamente tudo que nos passa pela cabe�a sem medo de causar
melindres. Assim, se nossa tia �s vezes nos parece gorda tememos
dizer-lhe isso.
Receamos dar risadas escandalosamente da bermuda rid�cula do vizinho ou
puxar as pelanquinhas do bra�o da v� com a maior naturalidade do mundo e
ainda falar bem alto sobre o assunto. Estamos crescidos e nos ensinam
que n�o devemos ser t�o sinceros. E aprendemos. E vamos adolescendo,
ganhamos peso, ganhamos seios, ganhamos pelos, ganhamos altura, ganhamos
o mundo.
Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece
inadequado aos nossos sonhos. Ah! Os sonhos! Ganhamos muitos sonhos.
Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.
A�, de repente, ca�mos na real! Estamos amadurecendo, todos nos admiram.
Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a
espontaneidade. Passamos a utilizar o racioc�nio, a raz�o acima de tudo.
Mas n�o � justamente essa a condi��o que nos coloca acima (?) dos
outros animais? A racionalidade, a capacidade de organizar nossas a��es
de modo l�gico e racionalmente planejado?
Saudadee eteeeerna de Bruninhooo