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Intelig�ncia brasileira.
QUAL � hoje a voca��o maior do pensamento brasileiro?
O caminho a evitar � o percorrido pelas ci�ncias sociais e pelas humanidades nos pa�ses do Atl�ntico norte. Nas ci�ncias sociais, a come�ar por economia, prevalece l� a racionaliza��o do estabelecido: Explicar o que existe de maneira a confirmar a necessidade, a naturalidade ou a superioridade das institui��es estabelecidas e das solu��es triunfantes. Nas disciplinas normativas-a filosofia pol�tica e a teoria jur�dica-, a humaniza��o do inevit�vel: A justificativa da redistribui��o compensat�ria e da idealiza��o do direito como meios para suavizar estruturas que n�o se sabe como reimaginar ou reconstruir. Nas humanidades, a fuga da vida pr�tica: Divaga��es e aventuras no campo da subjetividade, desligadas do enfrentamento da sociedade como ela �.
As tr�s tend�ncias fingem brigar entre si. Aliam-se, contudo, na submiss�o � realidade atual. A mensagem � sempre a mesma: Aceitar o existente, cantar acorrentado. Cortam o v�nculo, indispens�vel � raz�o, entre o entendimento do existente e a imagina��o do poss�vel.
No Brasil, estamos, em mat�ria de alta cultura, a reboque disso. A tend�ncia racionalizadora predomina, feita, por sua vez, de tr�s vertentes que conflu�ram para o mesmo fatalismo supersticioso. Um neomarxismo que perdeu confian�a tanto em seus dogmas como em suas esperan�as acabou como discurso para explicar por que nada muda no Brasil, a n�o ser para assegurar a impossibilidade da mudan�a. As ci�ncias sociais americanas foram apropriadas para explicar que o Brasil precisa fazer o que lhe mandam fazer. E o velho determinismo culturalista de nossos ide�logos conservadores foi reanimado para enfeitar com folclore o receitu�rio do conformismo e da falta de imagina��o.
J� passou da hora de jogar tudo isso fora. Para compreender nossa experi�ncia nacional, temos de executar obra de pensamento de valor universal. Identificar as estruturas, de organiza��o e de consci�ncia, que moldam nossa vida nacional. Reconhecer-lhes ao mesmo tempo o peso e a conting�ncia. Expor �s contradi��es, as anomalias, as brechas que fornecem oportunidades transformadoras. Mostrar como nos podemos organizar para diminuir o poder do passado sobre o futuro e a necessidade da crise para a mudan�a.
Dir�o que nada disso pode acontecer no pensamento brasileiro antes de termos universidade s�ria e condi��es para o trabalho intelectual. Os renascimentos da intelig�ncia, por�m, nem sempre esperam os meios; �s vezes os antecedem. � o esp�rito, escreveu Goethe, que faz o corpo.

Roberto Mangabeira Unger


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