A noite chegou, � hora de voltar para casa.
Mas a casa est� escura, a televis�o apagada
e tudo � sil�ncio. Ningu�m para abrir a porta,
ningu�m � espera. Voc� est� s�. Vem a tristeza
da solid�o� O que mais voc� deseja
� n�o estar em solid�o�
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza n�o vem da solid�o. Vem das fantasias que surgem na solid�o. Lembro-me de um jovem que amava a solid�o: ficar sozinho, ler, ouvir, m�sica� Assim, aos s�bados, ele se preparava para uma noite de solid�o feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falat�rio, os risos, a cervejinha. A� a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ningu�m estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E a� a tristeza entrava e ele n�o mais podia curtir a sua amiga solid�o. O rem�dio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, sa�a, ia para a festa� Mas na festa ele percebia que festas reais n�o s�o iguais �s festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solid�o� A noite estava perdida.
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A sua infelicidade com a solid�o: n�o se deriva ela, em parte, das compara��es? Voc� compara a cena de voc�, s�, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebra��es cheias de risos� Essa compara��o � destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solid�o porque a solid�o d�i. D�i uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas n�o sofra a dor da compara��o. Ela n�o � verdadeira.