UMA GAIOLA SEM PORTAS
N�o sei por que hoje eu me lembrei
De um personagem da minha inf�ncia
Da minha adolesc�ncia, da minha vida.
Eu n�o consigo me ver menino, homem,
A casa onde nasci sem lembrar do Bimbo,
Um p�ssaro preto, de uma ra�a t�o comum
Que sua defini��o era sua cor.
Vivia numa gaiola sem portas,
Comia na nossa m�o,
Circulava pela casa
E dormia, muitas vezes,
Sobre a cabe�a do pacato plut�o,
Um enorme pastor alem�o
Que dividia �gua e o nosso carinho
Com o inquieto passarinho.
Sabia estar seguro aconchegado no irm�o
E longe da qualquer ser mal intencionado
Com cara de gato e inten��es felinas.
Nunca tivemos despertador em casa,
As cinco horas, religiosamente,
Fazia o maior estardalha�o,
Um alarido estrondoso
Como se nos chamasse pelo nome:
Davi, acorda a�!
Rute, me escute!
Benedito n�o ta escutando o meu grito?
Isadora, ta na hora!
Josu� j� tomou caf�?
E todos levantavam, uns para a escola,
Outros pro trabalho.
O cheiro do caf� ainda no ar
O sol longe de nascer.
A casa toda agitada
Pelo toque do alvorecer
Dado pelo Bimbo.
Foram anos, al�m de duas d�cadas.
Velho Bimbo de p�s j� cascudos,
Dono da nossa hora,
Um despertador de asas negras
Inquilino de uma gaiola sem portas.
Realmente eu n�o consigo imaginar
Aquela casa sem o Bimbo.
A conclus�o dessa hist�ria
� f�cil de prever.
Uma manh� quem nos acordou foi o sol.
Todos, todos perderam a hora.
O velho Bimbo todo encolhidinho
No fundo da gaiola
Vou pro c�u dos passarinhos.
Foi um dia de luto e de muita tristeza.
N�o sei por que hoje eu me lembrei
Do Bimbo
O p�ssaro preto da minha vida.
Josuepoeta