Uma borboleta no c�u


Seu nome era Natasha, mas eu a chamava de borboleta.
Uma linda menina de olhos t�o negros como uma noite sem lua e de estrelas apagadas no c�u.
Seus cabelos espalhados, rostinho angelical e um sorriso encantador com lindos dentinhos mais parecidos com canjicas.
Eu a conheci numa manh� de domingo quando entrou naquele restaurante conduzida numa cadeira de rodas.
Uma linda cadeira de rodas toda cor de rosa cheia de colantes e adesivos com frases de amor e otimismo.
Perguntou-me se eu a achava estranha por estar numa cadeira de rodas e respondi a ela que essa era a forma que Deus escolheu pra carreg�-la no colo, ela me disse:
Voc� � poeta?
Respondi:
E voc� � a poesia.
A partir da� eu passei a ser um �dolo pra aquela do�ura, bastava ela chegar e procurava pelo tio J�, pedia um suco de laranja batido com gelo e a��car e exigia que al�m de servi-la eu mesmo o fizesse.
Por v�rios anos, em muitos domingos, a minha borboletinha de olhos negros fazia a alegria de toda aquela casa.
Ela tinha vida, amor, paz, esperan�a mas tamb�m uma doen�a rara: distrofia muscular progressiva, que dia a dia ceifava lentamente sua fr�gil vida.
Cada vez mais rara, sua doce visita aos domingos foi se tornando e fomos ficando pobres da alegria contagiante daquele anjo.
N�o havia domingo que eu n�o a esperasse entrando gloriosa como sua cadeira de rodas cor de rosa � procura do seu tio J�.
Na noite de ontem o telefone tocou como se fosse a can��o do sil�ncio anunciando a morte da minha menina de olhos negros.
Fiquei vazio por alguns instantes com aquela morte enorme dentro de mim. N�o respondi a liga��o amiga e nem chorei, fui at� a cozinha e fiz um suco de laranja exatamente como ela gostava. Ergui-o para o c�u feito um trof�u e bebi em homenagem ao seu encontro com Deus e com os anjinhos.
Hoje de manh� fui lhe ver pela �ltima vez e conduzi orgulhoso seu leve caix�o at� a derradeira morada nesta terra, agora sem fazer nenhuma quest�o de segurar as l�grimas na fria manh� de quinta-feira.
Natasha minha borboletinha linda de olhos da cor da noite, d� um beijo na minha m�ezinha e no meu paiz�o e fala pra Deus que dia desses eu apare�o por ai.
Descansa em paz querida. Sua cadeira vai ficar guardada, voc� n�o precisa mais dela, agora tens asas de anjo.
Te amarei eternamente borboleta-anjo que hoje voa nos jardins do nosso Senhor pelos c�us da minha saudade.

Josu� Bas�lio Oliveira

07/08/08

ANJINHOS VOANDO POR AQUI