Aquele que olha de fora atrav�s de uma janela aberta, n�o v� nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. N�o h� objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante do que uma janela iluminada por uma candeia. O que se pode ver � luz do sol � sempre menos interessante do que o que se passa por detr�s de uma vidra�a.Neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.
Para al�m do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, j� com rugas, pobre, sempre debru�ada sobre alguma coisa, e que nunca sai. Com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada, refiz a hist�ria desta mulher, ou melhor, sua lenda e, por vezes, a conto a mim mesmo chorando.
Houvesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua com igual facilidade.
E me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que n�o eu mesmo.
Voc�s talvez me digam: "Tem certeza de que esta lenda � a verdadeira?" Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?
Para al�m do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, j� com rugas, pobre, sempre debru�ada sobre alguma coisa, e que nunca sai. Com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada, refiz a hist�ria desta mulher, ou melhor, sua lenda e, por vezes, a conto a mim mesmo chorando.
Houvesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua com igual facilidade.
E me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que n�o eu mesmo.
Voc�s talvez me digam: "Tem certeza de que esta lenda � a verdadeira?" Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?
- Charles Baudelaire, "As janelas".
( BAUDELAIRE, Charles. "Pequenos Poemas em Prosa";Florian�polis, 1988. )
( BAUDELAIRE, Charles. "Pequenos Poemas em Prosa";Florian�polis, 1988. )