Soube que tinha cinco filhos. Ficavam com a m�e, pendurados l� no Morro do Estado. J� a tinha visto pior do que daquela vez. Na imagina��o, l� dela, aquela peruca loura, que mais parecia uma vassoura, mudava a cor de sua pele e a deixava, talvez, mais atraente. Como a dentadura posti�a que lhe legou aquele tique t�pico de passar a l�ngua sobre os �marfins�. Na orelha o mesmo brinquinho de camel� de sempre.

Mas, agora, era diferente. Estava trabalhando �por conta�:

� Eu fico mais l� n�o. Um entra e sai que a gente n�o tem nem tempo de se lav�. E depois ainda tem que d� metade pra outra l�.

Baiana passava todos os dias na lojinha para �bater o ponto�, como ela mesma dizia. Era caminho do barraco pro trabalho. Agora estava saindo com um �velho montado na grana�.

� Voc� nunca teve vontade de largar esta vida? Perguntei mesmo j� sabendo a resposta.

� Pra fazer o que? Nunca aprendi a l�, num vai s� agora. Lav� roupa l� no alto do morro, sem �gua corrente, d� n�o. Eu vou me virando aqui em baixo memo, do jeito que posso.

A peruca ainda esta suja, apenas trocara o alpargatas pela galocha, porque agora chovia.

� Esta foi o velho que me deu. Dada memo. Ele � bonzinho, tadinho.

As pernas agora cruzadas deixavam aparecer as grossas varizes, acima das meias soquetes.

� Acende aqui- curvou-se at� meu cigarro mais uma vez.

Desaba o temporal. Baiana olha o rel�gio pela mil�sima vez. Agora caminha a passos largos. Na esquina p�ra um Maverick  vermelho. O motorista estica o bra�o, entrega-lhe algo, acelera e segue. Ela tenta dizer-lhe alguma coisa, mas sua voz se perde na fuma�a solta pelo escapamento. Ela caminha de volta. Vem em minha dire��o. Trope�a. Xinga um sonoro palavr�o. Vejo-a passar a m�o sobre o rosto molhado, a peruca ensopada, o senho franzido. P�ra. Olha para mim, mostra o dinheiro e pergunta:

� C� me troca um galo?