TRISTE ENTARDECER



Talvez seja porque a tarde esta fria, o c�u coberto de nuvens , prenuncio de um fim de semana chuvoso, eu esteja sentindo dentro de mim um certo ar de tristeza...de melancolia. Coisa normal, j� que quando tem o sol, seus raios luminosos nos emprestam uma energia firme, positiva, pois vemos as cores definidas e tudo � alegria...at� os p�ssaros cantam contentes. Mas quando ou�o o cantar de uma cigarra, me sinto taciturna, triste, penso nela, ser� que ela tem a consci�ncia de saber que este � seu ultimo canto? A vida realmente � feita de mist�rios. Nunca pudemos dizer, ou melhor termos a certeza para poder afirmar: amanh� irei fazer uma pequena viagem, ao interior, rever aqueles meus tios e primos que h� tempos n�o vejo.

Mas realmente existe amanh�? E se o nosso amanh� for igual ao canto da cigarra? ...Eu nunca havia parado para pensar nisto. Mas , hoje, esse pensamento me invadiu o c�rebro e me fez repensar em minha vida. Nas coisas que fiz, que consegui realizar, mas tamb�m em tantas outras coisas que ainda n�o fiz, nem sequer tentei...e revivendo recorda��es passadas, tirei do fundo do meu cora��o sonhos e projetos arquitetados, elaborados com imenso carinho, mas nunca executados...nunca posto em pr�tica

Porque, me pergunto ? Nem eu mesma sei responder, ou talvez eu conhe�a bem a resposta, s� n�o quero admiti-la.

N�o consegui...n�o tentei...ou simplesmente por medo de fracassar nem procurei trabalhar em minhas metas, meus projetos. Tudo apenas uma quest�o de inseguran�a, covardia...ou simplesmente por me sentir s�, sem ter com quem partilhar, pedir e escutar conselhos, uma simples troca de id�ias ou aprender a ouvir os outros.

Isso me entristece, fecha-se a cortina do palco da minha vida, e no apagar das luzes, fica aquele sil�ncio angustiante, volta-se ao camarim, retira-se a maquiagem, e volta-se ao mundo normal, o mundo que voc� vive. Dias e noites escuras, sombrias, tendo como companhia a grande

solId�o...o vazio...e voc� se entrega, se deixa levar , se deixa simplesmente consumir pelo �cio, pela falta de incentivo e principalmente porque voc� perdeu o interesse pela vida.

Falta amor....amigos sinceros...carinho... paz....ternura... falta o barulho que antes voc� tinha pela casa, os brinquedos espalhados pelo ch�o, as toalhas molhadas em cima das camas, os uniformes escolares jogados pelo ch�o,livros e cadernos aqui e acol�. Hoje quando voc� anda pela casa, est� tudo lindo, impec�vel, nada a fazer...o piso brilhando onde voc� v� a sua imagem, os vidros l�mpidos transparentes, os cristais reluzindo...mas e eu, como estou, como me sinto,, como me vejo?

Olhando ao redor, vejo as flores que com seus matizes e perfumes emprestam alegria natural a vida, os p�ssaros que cantam, est�o felizes, partem em bandos a procura de dias melhores, que tem a certeza de que vir�o, as �rvores cujas folhas que hoje caem amareladas tamb�m est�o felizes, nem ligam em ficarem completamente nuas peladas, pois tem a certeza de que com a chegada da primavera, suas folhas nascer�o e se tornar�o de novo lindas, vivas , vi�osa. E comecei a pensar em tantas outras coisas que hoje est�o velhas, desprezadas, mas que no amanh� se tornar�o de novo lindas, queridas, amadas.

E em meio a esses pensamentos, voltei a pensar em mim, em minha vida, triste, solit�ria. Olhei-me no espelho, sorri

para mim mesma, e, pela primeira vez em minha vida, fui verdadeira, consciente, e real comigo mesmo. A imagem que hoje voc� v� refletida � o fruto da terra que voc� n�o teve a paci�ncia de adubar, de colocar a sementinha e ir regando aos poucos, de conversar com ela, dar-lhe aten��o e cuidados necess�rios no processo do seu desenvolvimento, n�o , voc� com sua impetuosidade, seu orgulho, sua correria, sua luta pela sobreviv�ncia, nunca parou e olhou para traz, para ver que alguns galhos estavam quebrados e precisavam ser arrancados, outros cresciam tortos, e precisavam da sua ajuda para abrir caminho e encontrar atrav�s de estacas que eu deveria colocar a sustenta��o, para que eles pudessem crescer eretos, vi�osos e darem flores maravilhosas, sem tantos es

pinhos. Mas hoje ser� que � tarde demais, para recome�ar, ou devo aproveitar os primeiros pingos da chuva que caem, como se fossem as l�grimas em forma de b�n��os que me mandam os c�us, para que eu recomece tudo com calma, com paz, com vontade, com sinceridade, com honestidade, para que no amanh�, eu possa colher,as

rosas, sem tantos espinhos. Se � que eu possa ainda acreditar que existe um amanh� para mim...Que n�o seja o hoje, igual ao canto da cigarra!




ARNEYDE T. MARCHESCHI
VITORIA.E.E.SANTO