“E, no meio de tantas mudanças, muitas rupturas. Algumas coisas foram encaminhadas pro novo destino, outras se perderam irremediavelmente.
O que sobrou posso contar nos dedos, antes eu mal conseguia fechar as gavetas: tão abarrotadas de coisas, pessoas, lembranças.
Mas o que houve afinal, além de um processo íntimo, pessoal, intransferível? Uma mudança externa também, porque há sempre um desconforto em quem se acostuma com o nosso comportamento mais antigo. E além de lidar com o luto da morte do que éramos, ainda o estranhamento dos que não aceitam o que nos tornamos.
Porque mudam os gostos, a disposição e os planos. E alguns reagem como se você os tivesse abandonado no meio de uma viagem a dois por outro continente, quando só você sabia falar a língua local, mesmo que isto os impedisse de aprender o idioma...”
Marla de Queiroz
art by Juliette Belmont