Pobre senhora!
Teu amor partiu,
Os seus se foram ao acaso
Ficaste presa na velha casa assombrada,
Tens por companhia o descaso
De si mesma penalizada
Furiosa com a vida e com a morte,
Irada contra a pr�pria sorte,
Tecendo intermin�veis tapetes
A saudade ferindo como alfinetes.
Mas quando finalmente se abre diante de ti
A derradeira porta,
E livre do peso do velho corpo adoecido
Que h� anos tinha por vestido
Teu amor te sorri expectante,
O olhar �mido enternecido
No gozo de t�o ansiado instante
Agora �s t�o leve como a fuma�a
Mas n�o percebe o que se passa.
Agarras-te ao velho corpo,
A velha casa palco de tantas angustias
Queres lev�-la contigo
Como um caramujo semimorto,
Prisioneira de si mesma
Navio fantasma atracado ao porto,
E os elementos fulguram ao teu redor
Contudo nada podes ver,
N�o h� que possa ser feito
S� o que seria o saber,
O corpo preso no leito,
O trinco inexistente da porta.
Com seus olhos de n�o ver,
Espreitando a vida indefinidamente morta
Claudia Morett
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