A cada dia que passa em nossas vidas, aprendemos a aprender mais e mais
com esse jogo perigoso, dram�tico, demorado e imprevis�vel. Ao longo da
maioria do tempo de nosso dia, um ap�s o outro, estamos pensando e
tentando projetar o que vamos falar, o que vamos fazer e como faremos
isso. Quando algo sai errado, � dif�cil n�o sentir aquela agonia
insistente dentro do nosso peito que nos faz fraquejar, chorar e nos
sentir diminu�dos perante a nossa pr�pria exist�ncia. For�amos at� o
extremo para que os �erros� possam ser reparados e para que tudo possa
voltar a ser como fora em outra ocasi�o.
E ent�o sofremos.
Sofremos por n�o querer, n�o aceitar, que a felicidade j� n�o se
encontra mais onde n�s achamos que ela ainda est�, onde n�s queremos que
ela ainda esteja. Vendamos nossos olhos e pensamos que n�o � preciso
ver para amar. Ver com o cora��o � t�o essencial como ver com os olhos
do concreto, pois ningu�m vive s� de ilus�o, de magia. Ningu�m vive s�
de imagina��o, de abstrato. E � claro que o que sentimos, quase sempre, �
mais forte do que nossa integridade, do que nossos bra�os. Contudo,
basta num momento de lucidez abrir os olhos, que a verdade chega e
percebemos o quanto pequenos somos.
E sofremos mais. Sofremos por ainda achar, em algum lugar dentro de n�s,
que n�o � hora de virar a p�gina. Mas uma folha de caderno, quando
preenchida, a �nica coisa que podemos fazer � escrever por cima do que
j� est� escrito. O que faremos ent�o? Borraremos nossa pr�pria hist�ria e
ficaremos a merc� de um passado que teima em ser ainda presente.
Estragaremos aquela bonita passagem de nossas vidas que j� foi escrita e
que acabou, borrando-a na esperan�a de melhorar e mudar um pouco a
narrativa. Tentando fazer com que ela seja inteiramente do jeito que
gostar�amos que fosse.
Foi ent�o que decidi aceitar.
A vida n�o � como n�s queremos que seja. Nunca. Aceitei um dia chuvoso
como se houvesse no c�u o sol do solst�cio. Aceitei quem foi me dado de
presente ao inv�s de perseguir insistentemente aquele amor imposs�vel,
que eu jamais conseguiria e que ainda acreditava que pudesse ter.
Aceitei a op��o de escolha quando ela foi me dada e aceitei o que veio
quando n�o tive escolha. �Dancei conforme a m�sica�, como minha s�bia
m�e me disse uma vez. Virei a p�gina e percebi que ainda tinha uma
p�gina em branco linda, esperando para que fosse preenchida.
A vida nos d� muitas coisas que, �s vezes, nem achamos que s�o
presentes, mas que s�o. Cabe a n�s aceit�-los de bom grado ou brigar
inutilmente com uma for�a que sempre ser� maior do que a gente, na
esperan�a de dobrar o mundo e conseguir o que � improv�vel.
E eu decidi aceitar. De bom grado e feliz. Porque sempre h� um arco-�ris ap�s uma tempestade.
Pense o que voc� quiser. (Y)