"Eu do Sol
Hoje a janela me ofereceu uma paisagem
Ofereceu-me o p�r do sol
muitos, eu sei, em meu lugar seriam capazes de poetar
de escrever em tintas coloridas ou belas palavras
O cen�rio que se apresentava ante minha janela
Eu, eu por�m estava neutro
eu havia visto aquilo antes
muitos exaltaram o lil�s-avermelhado do c�u
teceriam esp�ritos iluminados das nuvens
ressuscitando formas
Ontem, eu teceria tamb�m, mas hoje estou neutro
sem for�as, somente existindo
ontem, eu disse, que lindo azul eu sou
que lil�s-avermelhado eu posso ver
eu posso, eu posso ver
pois a natureza � incolor
Natureza morta
somente �tomos em profus�o dominam
o que percebemos erradamente como formas numa gestalt
que no fundo n�o h� nada de belo
� s� voc�, voc�, voc�
os poetas descritivos est�o redondamente enganados
ao inv�s de exaltar a beleza da natureza falsa
deveriam dedicar odes a si pr�prios
exaltando nosso eu
que sem d�vida � maravilhoso e incr�vel
pois � com esse mecanismo complexo que nos leva
a perceber tais fotografias
O p�r do sol
Eu me ponho �s 6 horas na Bahia e �s 7 no Rio
Eu sou o c�u com andorinhas
Eu sou o mar com seus peixes
Eu sou o mundo inteiro
assim piso no lugar que cheguei
aqui est� minha ode que faria ontem
Eu sou o sol
que belo lil�s estou, que fa�o aqui, porque me ponho
criatura cheia de porqu�s e vivo e gracioso c�rebro
que linda massa acinzentada, oh
m�quina poderosa, for�a de energias mil
faze-me crer que estou vivo
que existo nesse Brasil
� mago do cosmos, poderoso mais que Alexandre
poderoso mais que eu possa conceber ou imaginar
entre tu e as tripas aparentemente parecidas
diferes em cria��o desde tempos j� idos
Oh, massa molecular
eu sou o azul lil�s que essa janela me tr�s."
_Raul Seixas_