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A ENFERMEIRA DO AL�M

Ela, a querida irm� desencarnada,
Fizera-se enfermeira,
Aliviava a dor, de estrada � estrada,
Era uma esp�cie de bondade inteira,
Socorrendo aos irm�os que a morte
Espalhava nas trevas...

H� trinta anos servia,
Sem escolher lugar, trabalho ou dias.
Naquele imenso mar de sombra, o tempo parecia
Uma chaga mental sem esperan�a
De melhorar ou desaparecer...

Certa feita, contudo, a grande obreira alcan�a
Uma estranha mulher, deitada numa furna;
Embora n�o tivesse a morada carnal,
Estava cega e s�, deformada e ferida,
Patenteando a dor que lhe marcara a vida.

Ao ouvi-la gemer,
A irm� dos infelizes,
P�es-se, em campo, a cumprir
O que considerava por dever.

Impressionada, ao v�-la de mais perto,
A mission�ria, indaga, a peito aberto:
- irm�, ou�o-te o choro, h� muitas horas,
Por que tens tanto fel nas l�grimas que choras?

A pobre murmurou, pausadamente:
- Ai de mim! O que sou e de onde venho?
A mem�ria n�o d� para lembrar...
Sei mostrar simplesmente as mis�rias que eu tenho...

H� muitos anos, quantos j� nem sei,
Fui menina feliz num grande lar...
Recordo muito mais as dores que causei...
Minha m�e me queria
Para exaltar a natureza,
Num misto de eleg�ncia e de beleza,
E falava que eu era uma rosa entre as rosas,
Fosse para enfeitar as festas deleitosas
Ou estender no mundo o aroma da alegria...

Minhas aspira��es ca�ram, uma a uma,
Minha m�e n�o me quis em profiss�o alguma,
Vestia-me, orgulhosa, o corpo esbelto e fino,
Dizia que brilhar tra�ava-me o destino...

Casei-me, tive um filho e, depois de dez anos,
Troquei meu lar feliz por prazeres mundanos,
Meu esposo rogava o meu regresso em v�o.
Meu filho fez-se logo um belo rapag�o,
Vendo-me as aventuras, certo dia, 
Ele, menino e mo�o, veio visitar-me,
Condenou-me os costumes sem alarme,
Falou e lamentou-se em voz severa,
De conhecer por m�e a mulher m� que eu era...

De cabe�a alterada em coca�na,
Revoltei-me, ataquei-o...Atr�s de uma cortina
Apanhei um revolver no meu quarto,
Voltei � sala e apertei o gatilho,
Num tiro certo, assassinei meu filho!...
Depois de v�-lo morto, junto a mim,
Voltei a arma contra o pr�prio peito
E matei-me por fim!...

Em seguida, a pausa demorada,
Contou a pr�pria vida e deu o pr�prio nome...
Na pavorosa m�goa que a consome
A mulher prosseguia, consternada:
- Nunca mais vi ningu�m das pessoas que amei
Para mim, tudo � noite e a noite me carrega
Porque vivo sozinha, triste e cega
Decerto obedecendo alguma lei
Que n�o sei compreender nem explicar...

A enfermeira caiu em pranto ardente
E indagou da mulher, amargamente:
- E se encontrasses neste mar de trevas
Nos furac�es de dor a que te levas
A m�e que te entregou � rebeldia,
Teu cora��o que chora a perdoaria?

- Nada tenho a perdoar �
Disse a pobre atada ao sofrimento �
Minha m�e era um anjo em forma de mulher,
Jamais a esquecerei, um momento sequer,
Ela vivia, em tudo, a trabalhar por mim
N�o teve qualquer culpa de meu fim...

Se s� me fez o bem, fui eu quem fiz o mal...
Do amor que ela me deu
Fiz todo um lama�al...
Ningu�m pode encontrar motivos de censura
No carinho de alguma criatura
Que nos d� uma l�mpada sublime,
Se lhe usarmos a luz para fazer um crime...

A enfermeira abra�ou-a a encharcar-se de pranto
E quando a jovem triste e atormentada
Perguntou-lhe entre aflita e altamente intrigada,
Por que raz�o ela chorava tanto,
A benfeitora apenas respondeu:
- Deus louvado!... Encontrei o que procuro,
Venceremos na Terra do futuro,
Filha do cora��o, a tua m�e sou eu!...



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