Fui
ao cinema. Fui ver Kevin Costner transformar-se no homem de sucesso, generoso,
�timo pai e marido, eleito o Homem do Ano, que tem um alter-ego homicida
(William Hurt).
Adoro o Kevin e o William e foi isso que me levou ao
cinema, porque ver pessoas �normais� terem crises �psicop�ticas�, j� se tornou
fator comum.
Predileto, entre os comportamentos, pela ind�stria
cinematogr�fica, a psicopatia mostrada no filme �Instinto Secreto�, traz apenas
uma novidade. A refer�ncia de que devemos torcer para que esses indiv�duos sejam
est�reis ou avessos � id�ia de maternidade. Ufa! Que al�vio. Uma boa not�cia �
alguns conhecidos com forte potencial.
Brincadeiras � parte. A realidade
dessa conduta e alguns tra�os dela presentes em algumas pessoas s�o horr�veis e
desafiam a fic��o a super�-la. Quem poderia esquecer a estudante Suzane Louise
Von Richthofen, o caso da Rua Cuba, Guilherme de P�dua, s� pra citar os que me
ocorrem sem muito esfor�o de mem�ria?
Mas, aos poucos, essas refer�ncias
foram se tornando apenas manchete de jornais. � como se nos anestesi�ssemos
diante dessa brutalidade cometida entre os humanos enquanto nos ocupamos das
viol�ncias menores do nosso dia-a-dia.
Embora psicopatia e sociopatia se
confundam em sua defini��o, � importante ressaltar: Nem todo homicida �
psicopata e, nem todo sociopata � assassino. Ali�s, o termo �psicopatia� tem
enfrentado muita controv�rsia.
Para a escola francesa de psiquiatria,
por exemplo, � um termo gen�rico, como o seria para qualquer outra especialidade
m�dica. J� para hispano-germ�nica, n�o se trata sequer de uma doen�a.
Gosto mais da segunda. J� que na leitura diagn�stica desses indiv�duos
encontramos indiv�duos que possuem racioc�nio tem�tico, boas aten��o e mem�ria,
intelig�ncia �s vezes elevada, afetividade e poder decis�rio, totalmente
preservados.
Em resumo, trata-se apenas de uma anomalia ps�quica, ou
seja, uma personalidade anormal, no sentido de ter todas as qualidades da
�normal�, em quantidades proporcionalmente diferentes da m�dia estat�stica.
Independente de qualquer defini��o, m�dica ou social, o fator comum em
personalidades assim � a total aus�ncia de sentimentos. Assusta-nos, justamente,
porque essa caracter�stica se assemelha � muitas pessoas tidas como �normais�
que conhecemos.
O psicopata, � partir do princ�pio da aus�ncia de
sentimento, pode destruir (ou matar) unicamente para mostrar poder. � audaz,
inteligente, meticuloso e insistente. N�o teme castigo de nenhuma natureza.
Medo, vergonha, culpa, s�o sentimentos e ele n�o os possui, lembra?
O
lament�vel, quando avaliamos esse comportamento, � que nos deixamos levar por
atenuantes. � claro, que para psicopatia cl�ssica nos recusamos � sermos
tolerantes. Mas e para os comportamentos sociopatas espor�dicos?
Pois �.
� justamente a� que entramos no papel de coadjuvantes desavisados. Quando
avalizamos alguns comportamentos semelhantes atrav�s de justificativas sociais
ou emp�ticas.
Se uma m�e de fam�lia desempregada comete um roubo � m�o
armada para levar comida aos filhos, ela n�o � necessariamente um sociopata. Ou
quando algu�m que se sinta lesado ou usurpado dedica-se compulsivamente �
destruir quem julga respons�vel, apenas para retom�-lo, tamb�m n�o. N�o s�o
psicopatas, mas, s�o um bom exemplo de personalidade com potencial bastante
elevado.
O psicopata n�o � o sujeito de intelig�ncia incomum, como se
imagina. O que ocorre � que isento de qualquer outra manifesta��o mental que o
desviaria de seus intuitos, ele utiliza 100% dessa capacidade, na realiza��o dos
mesmos.
Protege-se atrav�s da aus�ncia de �catatimia� (interfer�ncia da
emo��o na raz�o). Embora ele conhe�a as diferen�as entre o bem e o mal, saiba o
que � certo e o que � errado, pois tem intelig�ncia para isso, este fator
intelectual n�o o impede, pois para ele nada significa absolutamente nada.
� por essa raz�o que n�o acredito na recupera��o da personalidade
psicop�tica. Na aus�ncia da mat�ria prima para o estudo da psique, como
empreender estudos para cura? Ora, como tratar uma neurose sem os sintomas
(emo��es) que a evidencia? Como tratar a culpa de quem tem ang�stia de senti-la?
Sua surpreendente capacidade refrat�ria fica evidente na aus�ncia de
lamenta��es cont�nuas. O sujeito assim, n�o lamenta seus atos quando
eventualmente fracassam. Lamentam o fato do fracasso n�o permitir a liberdade de
repetir as mesmas a��es sem antes ter que elabor�-las meticulosamente outra vez.
�! D� trabalho ter uma mente assim e ter que brigar constantemente pela
liberdade do exerc�cio do mal, para atender sua vontade de poder. Porque, pessoa
assim pode n�o ter sentimentos, mas bobo, n�o �.
Como saber se o seu
amigo, o s�ndico do pr�dio, ou a vendedora de Yakult s�o, ou n�o, psicopatas?
Com absoluta certeza n�o saberemos antes que um crime os denuncie.
N�o
aposte demais na bondade humana, se � que ela existe. Desconfie sempre daquele
tipo �esquisit�o�, ou do maluco com h�bitos incompreens�veis. Em �ltimo caso,
pondere seu pr�prio instinto de sobreviv�ncia.
Considere aquele algu�m
que a simples presen�a te d� um mal-estar indefinido, sem que voc� entenda por
que. Sabe aqueles que possuem a estranha propriedade de falar da sua vida
�ntima, privativa do seio familiar, abertamente a qualquer um que encontre por
a�; aquele que entrega a m�e, irm�os, amigos, para se safar de alguma banal
penalidade?
Pois �, vai por mim... desconfie e n�o o desafie. Pode ser
que voc� seja justamente aquele que ir� despertar naquele ser humano comum, seus
instintos assassinos t�o bem treinados em suas anteriores a��es �normais�, que
curiosamente muita gente se opunha.
Parto do pressuposto que o Mal tem
subst�ncia pr�pria e n�o seja apenas a aus�ncia do Bem. Mas, aten��o, uma
personalidade psicop�tica pode n�o matar, mas pode induzir um pelot�o de
homens-bombas a meterem um avi�o nas torres que impe�am sua vis�o.
* Texto inspirado e quase plageado de: "O C�rebro do Psicopata" de
Renato M.E. Sabbatini, PhD