Lenda das Amendoeiras - Algarve - Portugal
"Passam os anos, sopram os ventos, vibram os trov�es, cai a chuva, desfazem-se as terras, morrem as gentes,... _ mas as lendas ficam. ... as lendas transmitem-se e perduram,... Apenas a voz as transporta. De voz em voz galgam os s�culos. Perpetuam-se como a pr�pria vida. E � ao povo, sem d�vida, que devemos t�o extraordin�rio milagre."
H� muito tempo, antes da independ�ncia de Portugal, quando o Algarve pertencia aos �rabes, havia ali um rei mouro que desposara uma rapariga do norte da Europa, � qual davam o nome de Gilda.
Era encantadora essa criatura, a quem todos chamavam a Bela do Norte, e por isso n�o admira que o rei, de tez cobreada, t�o bravo e audaz na guerra, a quisesse para rainha.
Apesar das festas que houve nessa ocasi�o, uma enorme tristeza se apoderou de Gilda. Nem os mais ricos presentes do esposo faziam nascer um sorriso naqueles l�bios agora descorados: a "Bela do Norte" tinha saudades da sua terra.
O rei conseguiu, enfim, um dia, que Gilda, em pranto e solu�os, lhe confessasse que toda a sua tristeza era devida a n�o ver os campos cobertos de neve, como na sua terra.
O grande temor de perder a esposa amada sugeriu, ent�o, ao rei uma boa ideia. Deu ordem para que em todo o Algarve se fizessem planta��es de amendoeiras, e no princ�pio da Primavera, j� elas estavam todas cobertas de flores.
O bom rei, antevendo a alegria que Gilda havia de sentir, disse-lhe:
- Gilda, vinde comigo � varanda da torre mais alta do castelo e contemplareis um espect�culo encantador!
Logo que chegou ao alto da torre, a rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria ao ver todas as terras cobertas por um manto branco, que julgou ser neve.
- Vede - disse-lhe o rei sorrindo - como Al� � am�vel convosco. Os vossos desejos est�o cumpridos!
A rainha ficou t�o contente que dentro em pouco estava completamente curada.
A Princesa:
Ai portas do meu sil�ncio,
Ai vidros da minha voz,
Ai cristais da minha aus�ncia
da terra dos meus av�s.
Desataram-se em solu�os
os seus cabelos desfeitos...
O Rei Mouro
Dizei-me magos, oragos,
an�es, duendes, profetas,
adivinhos e jograis,
sagas, videntes,poetas...
Como hei-de secar o pranto,
daqueles olhos de rio?
Como hei-de secar os ais,
daquela boca de estio?
Como hei-de quebrar o encanto
que numa tarde de pedra
talhada pela tristeza
selou com dados de chumbo
o sorriso da princesa,
que suspira pela neve
da ponta do fim do mundo?