Sou a dist�ncia entre mim e a outra...
a tempestade e o remanso das �guas...
sou muitas...
sou eu...
a p�tala da rosa e o espinho...
um grito solit�rio...
a chuva de ver�o...
um p�ssaro cinzento...
sonho e ilus�o...
"Eu sou aquela que um dia algu�m sonhou,
algu�m que um dia veio ao mundo para me ver,
e nunca na vida me escontrou..."
Florbela Espanca
Perco-me nos caminhos e encontro-me nas encruzilhadas...
abandono-me nas palavras e encontro-me nos pontos finais...
dispo-me nos meus poemas para me encontrar nas entrelinhas...
escrevo-me e fico sempre no outro lado de mim...
t�o perto e t�o longe de ti...
como o mar que afaga os meus olhos...
e a tempestade que leva o meu corpo para o infinito onde te espero...
para o vazio onde n�o te tenho...
no labirinto onde n�o me encontro.
Sou um espa�o em branco...
um abra�o frio do tempo...
o resto que ficou esquecido entre as paredes nuas dos sonhos...
esperando em sil�ncio pelo toque de uma m�o...
pelo anseio do desejo...
pelo beijo que ficou entre a boca e o gesto...
pelo colo ausente no vazio presente...
rasgando a solid�o de todas as noites...
caminhando pelo escuro de todas as ruas...
na estrada sem fim que prende os meus passos...
nas rochas que me magoam o corpo...
na solid�o que me veste...
no muro que me rouba a luz...
no ocaso do meu olhar esculpido numa l�grima...
gritando um lamento eterno e v�o...
sem resposta e sem mim...
anoitecendo e amanhecendo...
e eu vazia...
e o tempo correndo e a vida esgotando-se...
e eu sem nada e o meu corpo sem ti...
e os meus dedos sem pele...
e as minhas m�os tateando o v�cuo...
e os meus bra�os acorrentados...
e os meus olhos chovendo l�grimas
e o mar levando o meu lamento para t�o longe da vida...
para t�o perto do nada.
� no escuro da minha alma...
que os meus poemas dedilham um triste fado...
que des�gua no meu peito a tempestade de que sou feita...
que me escrevo no sil�ncio de todos os gritos...
que me dispo de mim para me vestir de ti...
os espinhos das minhas lembran�as...
os pesadelos onde repousam os meus fantasmas...
os limbos onde a noite � mais noite...
na m�goa que escorre do meu sono...
pesadelo do meu sonho...
no aconchego gelado do meu adormecer...
na fria claridade do amanhecer.
D�i-me o sil�ncio...
doem-me as palavras...
d�i-me o tempo...
d�i-me a vida...
d�i-me a solid�o...