Elvis Aaron Presley teve que lutar literalmente desde o seu primeiro minuto de vida: ao nascer �s 12h e 20 min de 8 de janeiro de 1935, em East Tupelo, Mississipi, enquanto seu irm�o g�meo id�ntico, Jesse Garon Presley, n�o conseguia sobreviver. Desde a inf�ncia Elvis foi embalado pelo Rythm & Blues e pelo Country das r�dios sulinas. Parecia dotado para o canto e, ao completar oito anos, ganhou da m�e seu primeiro viol�o, comprado por 12, 75 d�lares. Ao contr�rio da lenda, n�o foi para gravar um disco em homenagem ao anivers�rio da m�e que Elvis procurou a gravadora de Sam Phillips, numa tarde de ver�o, agosto ou setembro de 1953. Gladys Presley fazia anos em 25 de abril. O que Elvis queria mesmo era ser descoberto por Sam Phillips, que ele admirava como cantor e principalmente como ca�ador de talentos.
Rebelde sem causa t�pico daqueles anos, Elvis n�o se deu muito bem na escola e estava trabalhando numa companhia de ferramentas quando foi demitido por brigar com o capataz, que implicou com seus cabelos longos. Naquele ver�o, em seu emprego como chofer para uma companhia de eletricidade, Elvis estacionou durante a hora do almo�o diante do n�mero 706 da Union Avenue em Memphis. Pagou quatro d�lares e saiu com o �nico exemplar do primeiro disco de Elvis Presley, um acetato de dez polegadas com uma can��o de cada lado. Sam Phillips n�o estava na gravadora aquele dia, era um s�bado, mas sua secret�ria, que fez a grava��o para Elvis, ouvia sempre Sam dizer:
�Se eu encontrasse um branco com o som de um negro e o sentimento de um negro eu faria um milh�o de d�lares!�
Ela achava que Elvis era o homem. Al�m do acetato, gravou sua voz numa fita e anotou seu endere�o. Depois de alguns desencontros e mais um acetato a quatro d�lares, Sam Phillips marcou a primeira grava��o comercial de Elvis para a Sun, numa segunda-feira, 5 de julho de 1954. Ao ouvir a primeira can��o, "I Love You Because", Sam Phillips come�ou a achar que n�o era bem o que estava procurando. Foi ent�o que, casualmente, num intervalo da grava��o, Elvis come�ou a cantar uma vers�o envenenada de um blues de Arthur �Big Boy� Crudup, chamada "That�s All Right (Mama)". E foi com esta can��o, que os DJs locais come�aram a tocar sem parar, que Elvis Presley conquistou Memphis.
Elvis era o que se chama na ind�stria fonogr�fica de um �produto quente� e a gravadora de Sam Phillips se tornou pequena demais para ele. Num hotel de Nova Iorque, no outono de 1955, Phillips passou o contrato de Elvis para RCA Victor, por 40 mil d�lares, import�ncia que usaria para investir em outros talentos, particularmente um cantor chamado Carl Perkins. Na barganha, Elvis levou cinco mil d�lares, dinheiro que usou na compra de um Cadillac cor-de-rosa para sua fam�lia. Pouco depois de cair nos bra�os de uma grande gravadora, Elvis se veria nas m�os de um astuto empres�rio, o �coronel� Tom Parker.
Com Parker e a RCA Victor, Elvis estourou da noite para o dia. Se tornou o maior nome musical de seu tempo, vendeu milh�es de discos, foi para Hollywood e tudo levaria a crer que n�o haveria limites para o seu sucesso. Mas havia. Os limites estavam no pr�prio Elvis, que deixou de ser um ser humano e virou um produto de marketing, um produto a se vender. Com isso sua m�sica ficou em segundo plano e o homem tamb�m. O cantor acabou sendo esmagado pela m�quina que se formou em torno de seu nome. O Rock n�o era mais um modismo passageiro ou um ritmo s� apreciado pelos negros, o Rock se tornou a base de toda a ind�stria fonogr�fica, e Elvis seu mais rent�vel artista.
O coronel Parker exercia um controle ditatorial sobre os aspectos art�sticos e at� sobre a vida particular de Presley, acompanhando-o at� a morte do cantor, em 1977, e continuando lucrar depois dela. �Quando conheci Elvis�, costumava dizer o coronel, �ele s� tinha um potencial de um milh�o de d�lares em talento. Agora ele j� tem mais do que o seu milh�o de d�lares!�. O que ocorreu realmente era que Presley era s� um garoto do interior dos Estados Unidos, um rapaz simples e sem a menor sofistica��o, seus pais eram s� trabalhadores sem educa��o formal que viviam no limite da sobreviv�ncia, que achavam incr�vel o fato de algu�m ganhar a vida como artista. Certa vez o pai de Elvis, Vernon, falou ao filho: "voc� tem de se decidir se quer ser um eletricista ou um m�sico, mas fique sabendo que nunca encontrei um m�sico que valesse alguma coisa". Era neste ambiente que Elvis cresceu, na realidade ele nunca entendeu o valor de sua m�sica dentro do contexto social da �poca.
A partir de 1981, a justi�a americana bloqueou os pagamentos de direitos a Parker, acusado de estar passando para tr�s os herdeiros do cantor, particularmente sua filha Lisa Marie, ent�o com treze anos. O Coronel pegou seu grande peda�o da fortuna de Elvis, ali�s em alguns contratos ele chegava a ganhar mais que o pr�prio cantor, muitos afirmam que Elvis nunca assinou um contrato formal com Parker, tudo seria verbal, baseado na antiga forma de ver dos sulistas, que como Elvis, acreditavam que um palavra vale mais do que mil contratos escritos.
Elvis Presley refletiu, mais do que qualquer outro m�sico, as contradi��es do Rock�n�Roll. Seus quarenta e dois anos consumidos numa vida intensa englobam contrastes dram�ticos como a lama do Mississipi e os palcos iluminados do mundo, os blus�es de couro negro e as jaquetas brancas cravejadas de pedrarias, os momentos de euforia e de solid�o. Quando surgiu, sua influ�ncia foi considerada desagregadora para a mocidade americana. A partir do seu terceiro show na televis�o americana, em janeiro de 1957, a imagem de The Pelvis (como era chamado) s� podia ser mostrada da cintura para cima, pois sua ginga era considerada obscena. Mas, a partir do momento em que se tornou o novo rei da can��o nos EUA, Elvis perdeu a vida pr�pria e passou a ser manipulado para fins comerciais e at� propagand�sticos. Seu gesto patri�tico ao ir prestar servi�o militar em 1958 foi um exemplo. O presidente dos EUA era um her�i da Segunda Guerra, Dwight Eisenhower, e o pa�s ainda se sustentava como o guardi�o da paz no mundo. Poucos podiam imaginar ent�o que, dentro de poucos anos, os jovens americanos sairiam �s ruas para protestar contra a guerra e contra o militarismo, queimando suas carteiras de reservista. J� nos anos 60, embora respeitado � dist�ncia como um dos vener�veis pais do rock, Presley se tornara mais um �dolo da maioria silenciosa do que os jovens hippies que se insurgiram contra o Sistema. Ele sempre tendera para a concilia��o e at� para a acomoda��o. Nos anos 70, esta m�quina de fazer milh�es se transformara num reacion�rio e paran�ico, uma esp�cie de �Howard Hughes pop�, enclausurado em seu castelo ou protegido do mundo por um bando de fi�is escudeiros, a chamada M�fia de Memphis. Em seu elogio f�nebre, o presidente Jimmy Carter disse que Elvis �era um s�mbolo da vitalidade, do bom humor e da rebeldia do pa�s�. Mas, querendo a todo custo manter sua imagem de bom mo�o, o rei do rock deixou de ser vital, bem-humorado e rebelde. E acabou perdendo, mais do que isso, a vida.
N�o podendo parar nunca, Elvis foi atropelado pelo sucesso. As centenas de discos, as dezenas de filmes, os shows de televis�o, os concertos apote�ticos e as longas turn�s traziam tamb�m a tens�o insuport�vel dos camarins, o esgotamento das viagens intermin�veis, o desgaste f�sico e emocional das grava��es, dos ensaios, das filmagens e a solid�o profunda das su�tes