Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero viv�-lo em cada v�o momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, ang�stia de quem vive
Quem sabe a solid�o, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que n�o seja imortal, posto que � chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes, "Antologia Po�tica", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, p�g. 96.
Apenas Palavras
O que s�o estas palavras
Rimadas e declamadas sem pensar?
Se eu as soubesse,
Enquanto minhas,
Saberia o que falar!
Id�ias, letras ou entrelinhas,
Na cabe�a, persistem em um bailar.
Fundem-se a realidade,
Invadem e explodem pelo ar.
Na alma, a legibilidade.
Como fa�o para as inventar?
Apenas recito se n�o as escrevo
N�o existem segredos!
Tamb�m n�o sei, a bem da verdade!
S�o apenas frases ditadas a esmo.
Talvez da inf�ncia a ingenuidade
Montantes de outros enredos
Ou da mulher, a maturidade,
Procedentes de v�rios contextos
A diligenciar uma s� verdade!
Cr�ditos: Siomara Reis Teixeira
N � U F R A G O
Como um n�ufrago, perdido entre
as paredes invis�veis da quietude do mar,
aqui estou, penando as duras e terr�veis
mazelas da minha insignific�ncia.
Quem sou eu, afinal, que grito no vazio
do infinito e nem meu pr�prio eco escuto?
A imensid�o do mar
� minha �nica companhia.
Quem sou, afinal, que corro pra l�
e pra c� em busca do nada?
O nada hoje � minha vida!
Minha �nica alegria!
Busco em sortil�gios algo que
fa�a reencontrar-me.
Mas, na vastid�o dos espa�os,
n�o encontro o meu, ao menos um,
onde possa recostar o corpo
cansado da luta travada em mim.
Em meio a sofismas pr�prios,
caminho em dire��o ao meu eu,
que, inerte, n�o encontra respostas!
Naufr�gio.
Perdido na minha ilha
de dor, saudade e solid�o.
Onde estou?
Quem sou?
Estou s�, perdido e vazio.
Sem dire��o!
Sem rumo!
Sem amor!
Cr�ditos: Marco Motta