Srtï¿½ Danny Cullen

Ja essa reflexï¿½o eh emocionante...

-------------------------------------------------

-> Isto ï¿½ virtual?

Entro com muita fome na confeitaria. Escolho uma mesa bem afastada do movimento, pois quero aproveitar a folga para comer e passar um e-mail urgente para meu chefe. Peï¿½o uma porï¿½ï¿½o de fritas, um sanduï¿½che de rosbife e um suco de laranja. Abro o lap-top. Levo um susto com aquela voz baixinha, quase um sussurro, atrï¿½s de mim.

- Dï¿½ um trocado?
- Nï¿½o tenho menino.
- Sï¿½ uma moedinha para comprar um pï¿½o.
- Estï¿½ bem, compro um para vocï¿½.

Minha caixa de entrada estï¿½ lotada de e-mails. Fico vendo as poesias, as formataï¿½ï¿½es lindas. Ah! Essa mï¿½sica me leva a Londres, Paris...

- Pede para colocar margarina e queijo tambï¿½m, falou o menino.
Percebo que o menino tinha ficado ali. ï¿½ Ok, disse o homem. Vou pedir, mas depois me deixa trabalhar, tenho muito serviï¿½o.

Chega a minha refeiï¿½ï¿½o e junto com ela meu constrangimento. Faï¿½o o pedido do guri, e o garï¿½om me pergunta se quero que mande o garoto ir "a luta". Meus resquï¿½cios de consciï¿½ncia me impedem de dizer. Digo que estï¿½ tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pedido do menino.

- Vocï¿½ tem Internet, pergunta o menino?
- Tenho sim, essencial ao mundo de hoje.
- O que ï¿½ Internet, pergunta o menino?
- ï¿½ um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notï¿½cias, mï¿½sicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar. Tem de tudo no um mundo virtual, disse o homem.
- E o que ï¿½ virtual, pergunta o menino?

Resolvo dar uma explicaï¿½ï¿½o simplificada, na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha deliciosa refeiï¿½ï¿½o, sem culpas.

- Virtual ï¿½ um local que nï¿½s imaginamos algo que nï¿½o podemos pegar tocar. ï¿½ lï¿½ que criamos um monte de coisas que gostarï¿½amos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como querï¿½amos que ele fosse.

- Legal isso. Adoro, respondeu o menino!
- Menino, vocï¿½ entendeu que ï¿½ virtual?
- Sim, tambï¿½m vivo neste mundo virtual.
- Nossa! Vocï¿½ tem computador?
- Nï¿½o, mas meu mundo tambï¿½m ï¿½ desse jeito... Virtual. Minha mï¿½e trabalha, fica o dia todo fora, sï¿½ chega muito tarde, quase nï¿½o a vejo, eu fico cuidando do meu irmï¿½o pequeno que chora de fome e eu dou ï¿½gua para ele imaginar que ï¿½ sopa, minha irmï¿½ mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas nï¿½o entendo, pois ela sempre volta com o corpo, meu pai estï¿½ na cadeia hï¿½ muito tempo, mas sempre imagino nossa famï¿½lia toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos, ceia de natal e eu indo ao colï¿½gio para virar mï¿½dico um dia. Isso ï¿½ virtual nï¿½o ï¿½?

Fechei meu laptop. Mandei o garoto sentar na minha frente e dei o meu lanche para ele. Fiquei olhando o menino comer o lanche e ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e nï¿½o percebemos...