Sou aquele que aprendeu a usar as palavras como uma faca afiada. Para me defender quando preciso e para atacar quando n�o restar outra alternativa. Desajustado. O que incomoda. O que fala o que n�o � conveniente ser dito. O que n�o se faz de v�tima para ter raz�o. Sou aquele que aprendeu nas ruas como � a vida real. Quem s�o as pessoas que tentam esmagar os sonhos dos outros com pessimismo, com falsidade, com a doce ilus�o da vida perfeita, que eu deveria querer, mas que fiz quest�o de cuspir na cara de quem tentou me vender com o pacote vazio. Sou aquele que apanha na face, que � facilmente apontado por n�o se omitir diante do que considera errado, injusto. Sou o que � motivo de risada dos cheios de certezas. Aquele que n�o faz quest�o de bajular os que amam ser bajulados e oferecem em troca um afago, um espa�o, um sorriso mentiroso e tapinhas nas costas.
Eu aprendi a usar as palavras como uma flor. Para oferecer a quem amo de verdade. Para presentear aqueles que n�o esperam de mim algo que n�o seja eu. Para repousar no sil�ncio do desespero. Quando n�o se tem mais respostas, mas solu��es e apenas uma palavra salva. Minha palavra fere, mas salva tamb�m.
Sou aquele que n�o coube no modelo que imprimiram para colorir todos com a mesma cor. Que n�o desenvolveu com a mesma efici�ncia o pensamento afagado. Que representa estere�tipos para r�tulos simplistas. Que n�o tem medo de ouvir n�o. Que n�o explana o sofrimento em busca da aceita��o pela pena. Tamb�m n�o tenho pena.. Sou aquele que aprendeu a usar as palavras como ref�gio em tempos de bombardeios. Como um por�o para fazer vig�lia enquanto todos dormem. Como um coquetel molotov na dire��o daqueles que tentam de todas as maneiras me tirar as palavras.
Do que adianta ter tantas palavras se n�o sei usar o sil�ncio?
Restam-me apenas palavras.