Uma coisa que, na minha inoc�ncia quase infantil, demorei para entender � que as pessoas fingem. Elas te levam a acreditar em fal�cias, te levam na conversa, num carinho, numa palavra mais bonita em um dia triste. V�o te levando assim, como quem n�o quer nada e, no fim, querem tudo. Levam embora suas noites bem dormidas, sua esperan�a quase inteira. V�o te dizer in�meras vezes sobre a sua import�ncia, o seu jeito especial, sua maneira �nica. E v�o dizer aos outros sobre o quanto voc� � bobo. V�o contar sobre as palavras bonitas que voc� escreveu para elas e inventar milh�es de v�rgulas a mais s� para ficar mais interessante a hist�ria. As pessoas ir�o de ferir, por gosto, ego ou inoc�ncia. � inevit�vel. Ir�o te contar coisas que ningu�m mais sabe, e espalhar�o seus segredos para quem n�o sabia. E n�s, o que fazemos? N�s levamos adiante. Fingimos que esquecemos, perdoamos, deixamos para l�. Afinal, pensamos, � humano. Humano, dizemos, como se fosse algo bom, vantajoso. Como se �Ser humano� valesse algo. � �bvio que depois da escravid�o, n�o se colocou mais pre�o em gente, mas o momento da hist�ria em que as pessoas menos valem, � agora, em pleno s�culo XXI.