Se eu tivesse parado de falar cinco palavras atr�s eu teria levado a garota pra casa. mas eu falo s� um pouco mais do que devo e por isso eu a perdi. E s� por causa de cinco palavras a mais. N�o foi nada t�o ofensivo assim. Apenas o suficiente pra mostrar quem eu sou de verdade. N�o que eu seja uma pessoa ruim, mas com essas cinco palavras a mais eu mostrei que sou o tipo de cara que ela n�o precisava conhecer naquela hora. Porque eu levo assuntos desconfort�veis pra balada. E � por isso que n�o levo ningu�m pra casa. Voc�s devem achar a� que eu sou aquele matador. N�o sou. Sou �s vezes. Tenho minhas fases. Eu sou o cara que leva assuntos estranhos aos lugares. A� o povo tem pregui�a. �bvio. Assuntos como a imperman�ncia, a hipocrisia, a fal�ncia da humanidade, a falsidade generalizada. Est�o a� as minhas pautas. Se eu fosse um pouco mais falsinho na balada comeria mulheres aos montes. Afinal, eu sou poeta, as minas se derretem pro poeta da balada. As pessoas j� me apresentam como o poeta. A� eu digo: Caralho, voc� quer queimar o meu filme? E a� come�a a desconstru��o. Quem precisa de um poeta contestador no momento da pura distra��o? Eu vejo no olhar das pessoas que elas querem muito que eu v� pra longe delas. Perguntam-se internamente: Se voc� n�o gosta de balada por que n�o ficou em casa? O problema � que eu curto a balada, mas pra causar, claro. Eu gosto de causar e isso fode com a sedu��o. As meninas querem ilus�o, esse � o prop�sito da balada, n�o? Ilus�o por cima de ilus�o. E eu fico l�, caminhando entre as pessoas, questionado a ilus�o da ilus�o delas. Eu nem falo mal da balada, porque eu gosto de balada, e isso seria uma enorme contradi��o. Eu s� abro a boca, simples assim, a� as palavras come�am a vazar na forma dessa merda l�gica que � o meu discurso numa balada. Tudo bem. Eu j� estou habituado a esta minha maldi��o. Isso me custou a foda da noite. Dane-se, se n�o fosse por isso eu n�o estaria aqui, agora, escrevendo os males, que se transformam nos bens. Sei l�, bem pra quem? Pra ningu�m. Pra quem me l�? Enorme presun��o. Foda-se isso. Falar menos, escrever menos, beijar mais, o universo � justo. Ele � um espa�o vazio com umas estrelas e uns planetas no meio e um monte de beijo entre eles. � assim, o universo � uma micareta c�smica, basta calar a boca e esperar o beijo. Quem fala n�o beija, uma lei f�sica que n�o est� em tratado cient�fico nenhum. Tem algo de errado nisso. Tem, claro. Malditas cinco palavras a mais.

J.Castro