Mas minha menina, a vida n�o � feita de ilus�es, e essa tua preocupa��o com a chuva � bobagem. D� tua m�o aqui, espera que logo chega a felicidade, e ela n�o deixa um gosto amargo na boca, como todas as outras coisas. Mas, minha menina, deixa aqui ao meu lado as tuas l�grimas para que plantemos esperan�as, desfrutemos dos olhos vermelhos, das m�os enrugadas de choro, dos dedos tortos de estalos, das pernas marcadas por quedas. Colhamos estrelas no quintal quando for v�spera de ano novo, fa�amos um piquenique � luz de velas, brindemos as irrepar�veis olheiras, os insepar�veis la�os. Mas, minha menina, recitemos Cec�lia quando Marjorie tocar, gargalhemos da gente, encontremos respostas, misturemos os gr�os. Escrevamos sobre cravos e rosas, sobre ares e folhas, sobre buscas e contos; Criemos coragem, refa�amos as contas, resgatemos as causas, defendamos as massas. Vivamos de sonho e distribuamos amor. Sejamos eternos, sejamos felizes. Troquemos correntes por asas, espinhos por fitas, suspiros por dentes expostos em curvas labiais. Encaremos a verdade, disfarcemos a dor, imitemos os her�is e durmamos embriagados. Fustiguemos o mal, nos levantemos sobre os montes, brademos um hino, lutemos ao lado dos esquecidos. Eu sei que leva um tempo para entender, mas poetas nunca morrem, menina. Nunca morrem.
Neemias Melo