Esses dias estava passando o feed do Instagram e me deparei com um casal de amigos morando fora. É, eles foram morar na Califórnia, viver o sonho. Ela, modelo, ele, faz os hambúrgueres maravilhosos que sempre fez, agora na gringa. Pareciam felizes, e deviam estar mesmo. Deu saudade. Eles eram ótimos, comecei a me lembrar. Me lembrei também da primeira agressão que ela sofreu. Primeiro verbal, até que, inacreditavelmente, a física. Eu sabia todos as chantagens psicológicas que ela sofrera e imagino que ainda deva ter sofrido depois de se mudarem. Afinal, ninguém muda assim tão drasticamente de um oposto pro outro, embora todos quiséssemos que sim. Embora, ainda, que todos nós já tenhamos passado por algo parecido e se identificado com a pessoa que sofre: Pois ela sempre anda com a esperança de que novos tempos estão por vir. Um filho, uma mudança de país, quem sabe? Novos ares poderiam resolver tudo. E assim se passaram anos. Traições, insultos, desrespeito, degradação da auto estima... E já me peguei pensando se a errada sou eu de não aceitar a felicidade a dois a esse preço. Ora, afinal, no final de tudo, eles estavam felizes e juntos, enquanto eu era plateia da foto dos dois sem ninguém ao meu lado. Deveria eu admirar aquele que tudo suporta? Aquela minha amiga que consegue ver e continuar amando a pessoa maravilhosa que habita por trás do monstro que hora ou outra se revela? Será que o mundo realmente é assim, de tamanho conformismo? A intimidade que teremos com o amor das nossas vidas vai nos fazer passar por isso? Devo ouvir minha mãe quando ela diz que “chega uma idade que não dá pra ser tão exigente?� Porque, eu não consigo pensar nem duas vezes antes de afirmar que sou do time dos que fazem a mala e pegam o primeiro avião se algo do tipo acontecer. O preço da teimosia em querer um relacionamento assim? Muitas vezes, a solidão. Prefiro chamar de solitude. Que eu saia, que eu parta, que eu acabe, que seja. Mas que seja assim. Não conseguiria dormir um dia sequer da minha vida sabendo que alguma parte de mim foi covarde.