Essa carta é um pedido de desculpas. Um pedido simplório e insuficiente, mas extremamente sincero. Essa foi a única coisa que consegui escrever a respeito desse episódio revoltante que estampou as manchetes nos últimos dias. Já tÃnhamos escutado casos absurdos de assédios e estupros em escolas, bares, delegacias, necrotérios, igrejas, estádios, faculdades, festas... E agora, para tornar tudo ainda mais degradante, aconteceu dentro de uma sala de parto. Como encontrar palavras para descrever a revolta que sentimos? Como acreditar em uma sociedade que não respeita nem mesmo um dos momentos mais Ãntimos e sublimes de uma mulher? Eu, enquanto homem, me sinto no dever de pedir perdão. E muito mais do que isso. É preciso tirar as vendas dos olhos e aceitar que todos nós necessitamos urgentemente de uma desconstrução. Precisamos ter a ciência exata do quanto é difÃcil e desigual essa luta que as mulheres travam todos os dias. E entender isso, apesar de importante, está longe de bastar. Temos que equiparar essa situação. Respeitar. Aprender a ouvir. Dar voz. Acreditar na dor. Valorizar o esforço. Reconhecer o talento. Melhorar a postura. Acreditar no pedido de socorro. Levantar-se contra o amiguinho babaca que insiste em pensamentos e comportamentos escrotos. Desprogramar essa maldita percepção perversa que insiste em apontar culpa na vÃtima. O que dizer agora? Será que existe uma postura adequada para se dar à luz? Será que a roupa da vÃtima era inapropriada? É obvio que não. Punição dura e exemplar, é o mÃnimo que se espera. A verdade é que nós, homens, precisamos enxergar coisas que eu não conseguiria expressar nessa carta, justamente por ser homem. Por isso a necessidade de ouvi-las. E por mais que eu esteja triste e revoltado, eu nunca saberei o que uma mulher sente nesse caso e em todos os outros. Todos os dias.
Rafael Magalhães