Você já teve vontade de ter gravado uma conversa com alguém só para ter “provas” do que a pessoa falou?
Pois sabe que “só” sua memória sobre o que foi dito seria insuficiente? E logo depois percebeu que mesmo com a gravação o conflito continuaria?
Em relações amorosas, esse tipo de sensação pode ser estar vinculada a contextos abusivos, mas não é exclusivo deles.
Esse desencontro pode ir muito além de um tema em específico, pois qualquer assunto pode virar alvo da mesma ordem de conflito.
Por vezes, as pessoas nem estão discordando tanto assim, entre si, mas o manejo do conflito faz parecer que ali há uma diferença irreconciliável, impossível de um ponto de encontro.
Essa posição em que o outro se torna quase que um oponente, um inimigo, um adversário a ser abatido com argumentos, alguém a ser flagrado em suas (supostas) incoerências nos faz lembrar que as relações amorosas não são feitas só de amor, de concordância, de encontro.
Em alguns casos, bastaria perguntar e escutar: o que, para você, significa isso? Talvez não seja o mesmo pra mim, talvez quase nunca seja. O que fazemos com isso? E se a gente tentasse conversar sem ter como finalidade o convencimento? Ou o aniquilamento?
Talvez aí nem pensaríamos em ter de gravar algo para segurar a verdade nas mãos, pois a memória, o desejo e a vontade de compartilhar o tempo já seriam suficientes.
Quando não se atravessa esse estado de desencontro, a conversa patina de tal forma que quanto mais nela se insiste, mais se afunda.
Nas permanências ou nas partidas, na alegria, na raiva, no encontro e no desencontro, para além do dito e do não dito, cabe nos perguntarmos se ali ainda é um terreno fértil onde queremos e conseguimos rir de nós mesmos.
Isso muda (quase) tudo.
Geni Núñez