Perder pode ser compreendido como o oposto de ganhar, mas também pode ser o oposto de encontrar. Posso dizer que se perdi as chaves, não é porque elas ganharam de mim e sim porque não as encontrei quando procurei. Mas, em algum ponto, não encontrar e ser derrotado são sentidos como sinônimos de uma mesma perda. Quando pensamos que no término de uma relação é que pela primeira vez perdemos, nos enganamos, pois mesmo antes já havíamos perdido um monte. Não é também por meio das perdas que o amor se expressa? Por elas dizemos, quando perdidamente apaixonados: Com você perco o chão (você me balança), perco o controle, a cabeça, a razão, me perco no olhar, no sorriso e nas palavras. Há jeitos, portanto, de perder, alguns nos dão uma sensação de alívio, outros, de pesar. Perder alguém é sempre a continuação de uma perda anterior, no amor a gente sempre perde, mesmo quando acha que encontra. E se para não perder a própria dignidade, para não abrir mão do que nos é inegociável, perdermos alguém, então essa perda é um encontro. Secretamente, e com uma certa vergonha, a gente pode até comemorar que perdeu, ufa! "Perdi tempo", dissemos quando nos arrependemos de algo, mas mesmo quando isso não acontece, continuamos a perdê-lo de alguma forma. E já que perder parece ser uma condição do viver, que a gente perca e ame bonito e com gosto, esse é nosso maior ganho.

Geni Núñez