Quando foi que nos ensinaram, que quem é forte não precisa de ajuda, uma árvore é forte porque precisa da água, um rio é forte porque precisa da chuva, uma planta que só consegue florescer quando recebe energia do sol, não é menos forte por isso, pelo contrário, a nossa força está na nossa interdependência. Para me sentir banhada pelo rio, não preciso que me banha exclusivamente, nele vivem milhões de seres, sou só mais uma, e ser mais uma é imenso. Ficaria o sol triste se eu dissesse que eu também preciso da água? E se sentiria menos brilhoso e deslumbrante? O vento se sentiria trocado e humilhado se eu também precisasse do orvalho? Toda competição é uma derrota porque parte do ponto errado, o mundo não gira em torno de nós, quando acontece do sol atingir onde estou, me alegro, mas não posso combinar com ele, o que atinge apenas a mim. Lembrar disso me deixou mais desamparada no começo, mas depois me fez nadar, diferente das monoculturas que esgotam a terra, o tempo e a graça, somos fortes quando nossa nutrição é promíscua, colorida e vibrante.

— Geni Núñez, no livro " Descolonizando Afetos: Experimentações sobre outras formas de amar". (Editora Paidós. Páginas 136 e 137). 1ª edição (30 outubro 2023).