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Pouca gente permanece em nossa vida, mas o essencial fica. {...}

Entro no avião, encontro minha poltrona, ajusto os fones de ouvido, procuro a playlist mais pertinente para dançar perto das nuvens. Salvador-Fortaleza. Nuvens e música boa tocando. Tudo calmo no coração até a segunda música entrar em ação. A segunda música me toca profundamente, me faz lembrar de alguém que um dia foi especial, mas que ali, naquele momento, já não tinha lugar na minha vida. Mais algumas músicas tocaram, e outra canção me lembrou outra pessoa que também já fora especial, mas que também já tinha ficado no passado, sem nenhum resquício de presença na rotina. Após o segundo lembrete musical, isso tudo já virou um debate, uma questão. Gasto os minutos restantes do voo pensando e recapitulando a quantidade de pessoas que foram importantes em algum momento da minha história e que hoje já não têm nenhuma espécie de presença, contato, vínculo. Uma infinidade de almas e corações que em algum momento, de forma intensa ou moderada, formaram alguma conexão comigo. Não que isso cause alguma espécie de dor, eu juro que não fazia questão de pensar nisso, mas estava ali, lembrando nomes, recordando momentos, revivendo mentalmente situações e, principalmente, elencando os motivos das despedidas. Em algumas a culpa foi minha, em várias outras, não foi, mas na maioria foi simplesmente a vida, bela e implacável, cruel e incrivelmente boa. A vida faz um filtro natural, vai afastando, vai testando determinadas conexões até que elas fiquem mais e mais fracas e se percam. A vida coloca um no Norte e o outro no Sul e, mesmo com tantos meios de se manter uma conexão forte e acesa, nós, por preguiça, desinteresse ou simplesmente fraqueza de sentimentos, vamos ficando inertes e deixando os vínculos escorrerem pelo ralo. Talvez porque a esmagadora maioria dessas pessoas não fosse essencial, o que me leva ao centro de todo este raciocínio: Quanto mais velhos ficamos, menos amigos temos, mas os que ficaram depois das tempestades e dos efeitos do tempo, são essenciais, imprescindíveis, necessários. São pessoas que se tornaram parte importante da vida e da rotina. Pessoas com quem a conexão se mantém intensa, mesmo sem contatos frequentes, mesmo sem presenças constantes. Gente que quando as coisas apertam, na hora do "Vamos ver", surgem e apoiam, são ombro amigo e porto seguro. Chego em Fortaleza confirmando que não devo carregar pesos ou culpas. No fim das contas, ficou quem teve que ficar, ficou quem é essencial, quem faz questão, quem vê em minha vida um lugar bom para permanecer. O resto, levo uma gratidão enorme pelos momentos bons e pelos aprendizados dolorosos e necessários. E está tudo bem.

— Victor Fernandes, no livro " Pra Você Que Sente Demais ". (Editora Outro Planeta. Páginas 49 e 50). 16ª edição (13 de abril de 2020).


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