Que, mesmo esmorecendo, criando rigidez ou uma casca para não ser atravessado peito adentro, os nossos afetos ainda sejam penetráveis em lugares que achamos não alcançar. A gente sente medo de sentir, na mesma fração que sente saudade de ser acolhido pelo afeto. Sentimos medo dos afetos que nos deixam em completa bagunça, e, por um tempo, criamos resistência a sentir. Colocamos o afeto no lugar de "Não quero isso novamente". O trauma molda nossa percepção por um período, mas é da nossa natureza ser dos afetos, então não adianta correr deles. O risco dos afetos é a imprevisibilidade que existe neles. Nenhuma garantia, somente vulnerabilidade. É abraçar as incertezas e o não controle das emoções, e ir vivenciar o que chega, fazendo tudo se movimentar. Que, mesmo com o medo de sentir, você não se feche para novas possibilidades, porque quem chega também merece partilhar uma troca inteira. E você, principalmente, merece ser contemplado com um sentimento que te cubra de coisas boas. Que, ao caminhar, você tenha consciência de que os afetos estão para você, tanto quanto você se põe à disposição deles. Que você não deixe de acreditar que merece alguém que celebre quem você é, que te ame de uma maneira única, de tal modo que se sinta especial. No fim das contas, você merece ser feliz nas suas relações, mesmo que, no percurso, você se sabote e crie paranoias para barrar sua experiência com o sentir. Que você nunca desacredite do poder de que merece existir de forma grandiosa. Que mesmo sentindo medo, você não se feche para as novas relações. Você merece os afetos.

— Matheus Vieira