Essa semana, precisamente no dia das mães, faleceu uma tia muito querida. Partidas são sempre algo doloroso e que trazem reflexão. Em contrapartida ficam as memórias e as lembranças, porém o amor construído ele permanece com a gente, mesmo quando se tem a saudade.
Acredito que além do coração ser cheio de gavetas, o cérebro também é lotado de abas, e talvez pra cada pessoa que passa por nós, que nos ajuda a escrever e a contar a nossa história, há uma gaveta e uma aba para cada indivíduo, sejam grandes ou pequenas, estiveram ali, têm-se uma contribuição. Era uma mulher cheia de afeto, pros amigos, pra família. Era alegre, espontânea, provedora, forte, um iceberg, uma mulher resistente e com a mente bem aberta.
Quando eu me assumi bissexual e fui contar pra ela que estava em um relacionamento com uma garota, ela me olhou e disse: Filha, se isso te faz feliz hoje, é o que importa! Isso foi tão caloroso pra mim, uma mulher de mais de 70 anos, vinda de uma época de total conservadorismo, de outra geração, outros tempos, me dizendo isso. É muito foda!
Mesa farta e a casa cheia. Isso era sinônimo de amor pra minha Tia Ilza. Se ela te convidasse pra ir a casa dela, com toda certeza ela iria te oferecer quitandas que ela mesmo preparava. Canjica, pão de queijo, biscoito de queijo, peta de polvilho, rosquinha, pão, e não menos importante o café. Era o café mais doce que eu já tomei na vida, e muitas pessoas reclamavam disso, mas pra mim a quantidade de açúcar que ela colocava no café, era a mesma quantidade de doçura que ela carregava nos olhos, no coração, na alma. Fazia parte da sua essência.
Espero que agora no andar de cima, com o seu lindo terno branco, a senhora dê um grande abraço no meu Avô Arestides, na minha Avó Elza, e que os três se reúnam com mais pessoas e que façam muitos banquetes, sem jamais esquecer de dividir as suas quitandas, principalmente com Deus. Depois me diz o que ele achou do café, quando a gente se encontrar. Te amo. Se cuida por aí!

— .(Escrito dia 15/05/2025, às 08:35).