« Anterior 31/08/2025 - 20:29 Próxima »
Tem gente que acha que só os grandes momentos importam, que a vida se mede pelos dias em que tudo foi intenso, diferente, memorável. Mas a verdade, é que a maior parte da vida é feita de coisa comum, é o café que esfria enquanto você tenta resolver tudo ao mesmo tempo, é o barulho da chave na porta, é a notificação no celular, é o chinelo virado, é a toalha esquecida na cama, é a sacola pendurada na maçaneta. A gente se acostuma tanto com essas pequenas repetições, que nem percebe o quanto elas seguram o mundo de pé, porque é nelas que mora a estabilidade, é nelas que mora o afeto que não precisa gritar. Um dia talvez você perceba que o que mais sente falta, não é das viagens, das festas ou dos planos grandiosos, é daquela voz no cômodo ao lado, do jeito como alguém te chamava pelo apelido, do barulho da risada na sala enquanto você lavava a louça. E aí você entende, a vida nunca foi sobre os grandes momentos, foi sobre quem dividiu e ainda divide com você os pequenos dias, sobre quem te olhava/olha como se aquilo, aquilo ali mesmo, o simples, fosse suficiente e era, assim como ainda é. Hoje na rua, eu vi uma senhora segurando uma sacola com tanto cuidado, que parecia carregar algo frágil, não era vidro, nem flores ou algo do tipo, era só pão. Mas ela ajeitava a sacola no colo, como quem protege um segredo, de vez em quando passava a mão por cima do plástico, como se confirmasse que tudo ainda estava ali. Fiquei olhando, e pensei que a gente faz isso o tempo todo, segura certas coisas com um cuidado quase invisível, não porque sejam caras, mas porque são nossas. Pode ser um pão quente que vai esperar por alguém em casa, pode ser uma lembrança que só a gente entende, pode ser um abraço que a gente guarda pra dar no momento certo. Essas coisas não ocupam muito espaço, mas pesam de um jeito diferente, pesam de importância, de afeto, de história e talvez seja por isso que no fundo, a gente anda por aí segurando sacolas, caixas ou corações, sempre com o mesmo cuidado de quem sabe que aquilo é simples, mas é indispensável. Outro dia eu percebi que eu passo boa parte da vida esperando pelos dias especiais, a sexta-feira, o feriado, a viagem que planejei. Parece que a gente vive contando os dias pra chegar lá, como se fosse nesse ponto que a vida realmente começasse. Mas aí chega o dia e ele também passa depressa, como qualquer outro e no fim eu fico com aquela sensação estranha. E se a vida acontece só de vez em quando, então onde ela estava nos outros dias? A verdade é que a maior parte da vida acontece no meio, nos segundos de tédio entre uma mensagem e outra, no ônibus lotado em que você fica olhando pela janela, no café da manhã apressado, no almoço simples da segunda-feira, a vida está no que a gente chama de rotina, e é justamente por parecer comum que a gente quase nunca olha pra ela com carinho. E eu fiquei pensando, se o que mais tenho são dias comuns, então não seria inteligente tratá-los como especiais também? Talvez a vida não seja de grandes marcos, mas de repetições discretas, o copo de café que esfria, o vento que entra pela janela, o bom dia apressado que alguém te dá na rua, e quando a gente percebe isso, tudo muda. Porque aí, cada instante começa a ter gosto de vida de verdade, e talvez a poesia esteja justamente aí, em entender que a vida não acontece só quando a gente planeja, mas em cada detalhe pequeno que parecia nada, e no fim era tudo.

— .(Escrito dia 17/08/2025, às 10:32).


Comentários
Apenas o dono deste FlogVip pode visualizar os comentários desta foto!

Nome:


Mensagem:


    Saiba como inserir os seus Emoticons
/filtronaveia
Sobre filtronaveia
Goi�nia - GO

Presentear FlogVIP
Denunciar

Últimas fotos

31/08/2025


31/08/2025


31/08/2025


31/08/2025


31/08/2025

« Mais fotos


Feed RSS