L�on Denis
A alma vem de Deus; �, em n�s, o princ�pio da intelig�ncia e da vida. Ess�ncia, misteriosa, escapa � an�lise, como tudo quanto dimana do Absoluto. Criada por amor, criada para amar, t�o mesquinha que pode ser encerrada numa forma acanhada e fr�gil, t�o grande que, com um impulso do seu pensamento, abrange o Infinito, a alma � uma part�cula da ess�ncia divina projetada no mundo material.
Desde a hora em que caiu na mat�ria, qual foi o caminho que seguiu para remontar at� ao ponto atual da sua carreira? Precisou passar vias escuras, revestir formas, animar organismos que deixava ao sair de cada exist�ncia, como se faz com um vestu�rio in�til. Todos estes corpos de carne pereceram, o sopro dos destinos dispersou-lhes as cinzas, mas a alma persiste e permanece na sua perpetuidade, prossegue sua marcha ascendente, percorre as inumer�veis esta��es da sua viagem e dirige-se para um fim grande e apetec�vel, um fim que � a perfei��o.
A alma cont�m, no estado virtual, todos os germens dos seus desenvolvimentos futuros. � destinada a conhecer, adquirir e possuir tudo. Como, pois, poderia ela conseguir tudo isso numa �nica exist�ncia? A vida � curta e longe est� a perfei��o! Poderia a alma, numa vida �nica, desenvolver o seu entendimento, esclarecer a raz�o, fortificar a consci�ncia, assimilar todos os elementos da sabedoria, da santidade, do g�nio? Para realizar os seus fins, tem de percorrer, no tempo e no espa�o, um campo sem limites. � passando por in�meras transforma��es, no fim de milhares de s�culos, que o mineral grosseiro se converte em diamante puro, refratando mil cintila��es. Sucede o mesmo com a alma humana.
O objetivo da evolu��o, a raz�o de ser da vida n�o � a felicidade terrestre, como muitos erradamente cr�em, mas o aperfei�oamento de cada um de n�s, e esse aperfei�oamento devemos realiz�-lo por meio do trabalho, do esfor�o, de todas as alternativas da alegria e da dor, at� que nos tenhamos desenvolvido completamente e elevado ao estado celeste. Se h� na Terra menos alegria do que sofrimento, � que este � o instrumento por excel�ncia da educa��o e do progresso, um estimulante para o ser, que, sem ele, ficaria retardado nas vias da sensualidade. A dor, f�sica e moral, forma a nossa experi�ncia. A sabedoria � o pr�mio.
Pouco a pouco a alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se vai acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais intimamente com o seu meio social e planet�rio. Elevando-se cada vez mais, n�o tarda a ligar-se por la�os pujantes �s sociedades do Espa�o e depois ao Ser Universal.
Assim, a vida do ser consciente � uma vida de solidariedade e liberdade. Livre dentro dos limites que lhe assinalam as leis eternas, faz-se o arquiteto do seu destino. O seu adiantamento � obra sua . Nenhuma fatalidade o oprime, salvo a dos pr�prios atos, cujas conseq��ncias nele recaem; mas, n�o pode desenvolver-se e medrar sen�o na vida coletiva com o recurso de cada um e em proveito de todos. Quanto mais sobe, tanto mais se sente viver e sofrer em todos e por todos. Na necessidade de se elevar a si mesmo, atrai a si, para faz�-los chegar ao estado espiritual, todos os seres humanos que povoam os mundos onde viveram. Quer fazer por eles o que por ele fizeram os seus irm�os mais velhos, os grandes Esp�ritos que o guiaram na sua marcha.
A Lei de justi�a requer que, por sua vez, sejam emancipadas, libertadas da vida inferior todas as almas. Todo ser que chega � plenitude da consci�ncia deve trabalhar para preparar aos seus irm�os uma vida suport�vel, um estado social que s� comporte a soma de males inevit�veis. Esses males, necess�rios ao funcionamento da lei de educa��o geral, nunca deixar�o de existir em nosso mundo, representam uma das condi��es da vida terrestre. A mat�ria � o obst�culo �til; provoca o esfor�o e desenvolve a vontade; contribui para a ascens�o dos seres impondo-lhes necessidades que os obrigam a trabalhar. Como, sem a dor, hav�amos de conhecer a alegria; sem a sombra, apreciar a luz; sem a priva��o, saborear o bem adquirido, a satisfa��o alcan�ada? Eis aqui a raz�o por que encontramos dificuldades de toda sorte em n�s e em volta de n�s.
(L. Denis - O Problema do Ser, do Destino e da Dor)
(L�on Denis - Obra: Depois da Morte).