Pastora de nuvens, fui posta a servi�o
por uma campina desamparada
que n�o principia e tamb�m n�o termina,
onde nunca � noite e nunca madrugada.
(Pastores da terra, v�s tendes sossego,
que olhais para o sol e encontrais dire��o.
Sabeis quando � tarde, sabeis quando � cedo.
Eu, n�o.)
Pastora de nuvens, por muito que espere,
n�o h� quem me explique meu v�rio rebanho.
Perdida atr�s dele na plan�cie a�rea,
n�o sei se o conduzo, n�o sei se o acompanho.
(Pastores da terra, que saltais abismos,
nunca entendereis a minha condi��o.
Pensais que h� firmezas, pensais que h� limites.
Eu, n�o.)
Pastora de nuvens, cada luz colore
meu canto e meu gado de tintas diversas.
Por todos os lados o vento revolve
os velos inst�veis das reses dispersas.
(Pastores da terra, de certeiros olhos,
como � t�o serena a vossa ocupa��o!
Tendes sempre o ind�cio da sombra que foge...
Eu, n�o.)
Pastora de nuvens, esqueceu-me o rosto
do dono das reses, do dono do prado.
E �s vezes parece que dizem meu nome,
que me andam seguindo, n�o sei por que lado.
(Pastores da terra, que vedes pessoas
sem serem apenas de imagina��o,
podeis encontrar-vos, falar tanta coisa!
Eu, n�o)
Pastora de nuvens, com a face deserta,
sigo atr�s de formas com feitios falsos,
queimando vig�lias na plan�cie eterna
que gira debaixo dos meus p�s descal�os.
(Pastores da terra, tereis um sal�rio,
e andar� por bailes vosso cora��o.
Dormireis um dia como pedras suaves.
Eu, n�o.)
Cec�lia Meireles