Contrapondo-se aos valores racionalistas e materialistas da sociedade burguesa, certos escritores do Romantismo criam uma literatura fantasiosa, identificada com um universo de satanismo, mist�rio, morte, sonho, loucura, e degrada��o. Trata-se da literatura de tradi��o g�tica, conhecida tamb�m como maldita, que at� hoje encontra adeptos na literatura, na m�sica e no cinema. Note que a literatura de Tradi��o G�tica n�o � uma classifica��o liter�ria independente, mas sim uma vertente do romantismo. O termo "g�tico" foi roubado da arquitetura. Designa um estilo de constru��o muito elaborado, imponente e algo sombrio, que predominou durante a Idade M�dia. Ocorre que as primeiras obras do g�nero tinham como cen�rios castelos medievais - e da�, foi um passo para surgir a express�o romance g�tico.Curiosamente, a literatura g�tica surgiu no s�culo XVIII - o chamado "s�culo das luzes". Talvez fosse uma rea��o ao racionalismo que ent�o predominava na literatura e na filosofia.Considera-se que o fundador do g�nero foi o ingl�s Horace Walpole (1717-1797), com O Castelo de Otranto, publicado em 1764. J� temos nessa obra o cen�rio por excel�ncia do g�tico, que ainda aparece, com algumas varia��es, em muitos filmes de terror de hoje: O castelo com passagens secretas, quadros que se movem, corredores longos e labir�nticos, ru�dos inexplic�veis. Parece que Walpolese levava a s�rio: mandou construir para si mesmo um castelo em estilo medieval.Depois de Walpole, surgiram autores como William Beckford (1760-1844), Ann Radcliffe (1764-1823) e Gregory Lewis (1775-1818), autor de um escandaloso best-seller, O monge (1796). Essa moda do romance g�tico foi breve, e hoje os primeiros representantes do g�nero j� n�o s�o muito lidos.
Sua influ�ncia sobre o s�culo seguinte, por�m daria frutos variados e bizarros. Mary Shelley (1797-1851) criou Frankenstein, livro que alcan�ou uma "imortalidade inexplic�vel". Outro grande personagem das hist�rias de terror ganharia sua vers�o definitiva em 1897, com Dr�cula, de Bram Stoker (1847-1912). Na Alemanha, E.T.A. Hoffmann (1776-1822), autor de novelas e contos como O homem de Areia, conseguiu elevar artisticamente o "elemento fant�stico" do g�tico. E, nos Estados Unidos, surgiria talvez o maior de todos os escritores de contos fant�sticos: Edgar Allan Poe (1809-1849), autor de cl�ssicos como O gato preto e William Wilson. Tamb�m h� elementos g�ticos em O morro dos ventos uivantes, desvairada hist�ria rom�ntica da inglesa Emily Bront� (1818-1848), e em Jane Eyre, da irm� de Emily, Charlotte Bront� (1816-1855).A tradi��o g�tica vai lonje. J� no s�culo XX, temos autores como o arrepiante norte-americano H.P. Lovecraft (1890-1937). O cinema aproveitou os motivos g�ticos e os transformou em clich�s cada vez mais dif�ceis de suportar. Autores de best-sellers, como Anne Rice e Stephen King, faturam muito repetindo esse mesmos clich�s.Tradi��o G�tica no BrasilA tradi��o liter�ria g�tica � representada pela prosa de �lvares de Azevedo, por parte de sua poesia (a face Caliban) e por algumas contribui��es de Bernardo Guimar�es e Junqueira Freire.
Essa produ��o representa uma ruptura n�o apenas com os padr�es liter�rios vigentes, estabelecidos pela primeira gera��o rom�ntica, mas tamb�m com os pr�prios valores da sociedade. Trata-se, em suma de uma literatura que afronta o racionalismo e o materialismo burgueses e opta por zonas escuras e antil�gicas do subconsciente, onde de fundem instintos de vida e de morte, libido e terror.A literatura g�tica sempre teve um car�ter marginal, de acordo com o sentimento de marginalidade experimentado pelos escritores ultra-rom�nticos que deram origem a ela em nosso pa�s. No Brasil, tiveram liga��es com essa tend�ncia os simbolistas Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimar�es e o pr�-modernista Augusto dos Anjos.
Fonte: http://www.gothiccastle.net/?categoria=textos&pagina=literatura