ABRA�A-ME
Uma qu�mica delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atra�das uma pela outra.
O encontro se faz quase sempre pelo olhar. Segue-se a participa��o da boca, primeiro em sorrisos,
depois em palavras. A� vai surgindo o desejo de tocar, de abra�ar.
Pesquisadores dizem que precisamos de seis abra�os por dia para n�o nos sentirmos carentes.
Por que seis?
Talvez porque um � pouco, dois � bom, tr�s � melhor ainda, quatro ent�o nem se fala ...
Nossos bra�os servem para abra�ar, enla�ar.
S� que cada abra�o tem que ser sentido, vivido.
Como diz o terapeuta paulistano Jos� �ngelo Gaiarsa,
voc� n�o toca no outro como se ele fosse uma cadeira.
Sen�o voc� est� coisificando o outro.
Acontece que o outro � de carne e osso, parecido com voc�,
por isso, o gesto n�o pode ser impensado, mec�nico, automatizado.
As pessoas est�o cansadas do gesto maquinal que n�o reflete nada.
Quando eu toco o outro, que est� al�m das fronteiras do meu pr�prio corpo,
eu o sinto e sinto a mim mesma simultaneamente.
Nesse sentido, podemos ficar horas sem fim nos tocando e nos sentindo.
Mergulhando na sensa��o, percebendo o outro e me percebendo,
tenho a sensa��o de estar sendo abra�ada.
A crian�a registra essa impress�o na mente e vai pelo resto da vida tentando reconstituir,
reencontrar essa sensa��o. Por isso o ser humano tem fome de abra�o.
Ele est� tentando repetir o prazer que est� associado a essa primeira experi�ncia.
Assim como aprendemos a falar porque alguma pessoas falam conosco
e vamos falar da forma como elas falaram -, tamb�m aprendemos a tocar em grande parte
dependendo da forma como fomos tocados. O aprendizado do amor come�a a�.
As sensa��es de mamar e amar ficam profundamente interligadas e at� insepar�veis em nossa mente.
Mais tarde, freq�entemente comer se torna uma forma de compensar a falta de amor.
� por isso que, quando estamos carentes, atacamos a geladeira, bebemos mais cerveja,
tomamos mais sorvete, comemos mais um chocolate.
Tanto a fome de alimento com essa fome de contato normalmente se intensificam nos per�odos de tens�o.
Entretanto, enquanto a fome de alimento podemos matar sozinos com comida,
cigarro ou �lcool, a fome de contato dificilmente pode ser satisfeita sem outra pessoa.
O que se resolve com gestos que nos aproximam, nos vinculam ao outro.
Pode-se alisar, abra�ar, tocar de forma apressada, impensada, dissociada.
Ou pode-se tocar sensualizando, erotizando cada movimento.
Cada gesto traduz um sentimento, uma emo��o, que provoca uma rea��o.
Se o gesto � indiferente, n�o manifesta nada, n�o tem energia nem inten��o,
voc� congela o outro e se congela. Se ele for macio, terno, doce, voc� derrete o outro e se derrete.
Se ele for er�tico, excitante, estimulante, apaixonado, voc� incandesce o outro e se incandesce tamb�m.
Muitas vezes, quando se faz amor, carinho e car�cia se misturam, se juntam, se fundem e confundem.
Brincamos com o nosso corpo porque sabemos que fazer amor � " um alisar o outro e o outro alisar o um " .
Nessa troca de car�cias, o outro responde ao meu gesto e tende a fazer aquilo que meu gesto insinua.
O que acontece � uma conversa dos dedos sobre a pele.
O que se busca, quando se faz amor, � essa amplia��o da consci�ncia do contato.
Na medida em que vamos aprendendo a ampliar o contato com outra pessoa,
vamos ampliando e aprofundando nosso contato vivo e prazeroso com tudo o que existe.
" Tato � a linguagem inicial da vida. "
Maria Helena Matarazzo