AMOR
Vida e poesia
A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que n�o havia.
Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
� Ningu�m sabia, mas n�s est�vamos ali.
S� os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores
Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela �nsia de te ter t�o vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germina��o estranha do meu indiz�vel apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de �gua enluarada.
E ele era t�o belo, t�o mais belo do que a noite
T�o mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao v�-lo trilar sobre os teus dentes como um c�mbalo
E se escorrer sobre os teus l�bios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas m�os vazias
De que me tivesses possu�do antes do amor.
Vinicius de Moraes
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