Pai, �pai her�i�, na inf�ncia parecia-me perfeito. Com seu carinho sentia-me amada. Com seu olhar orgulhoso, sentia-me �nica e bela. Sob seus olhos criei minha auto-estima. Contudo, na adolesc�ncia pareceu-me enfraquecido e n�o reconhecia mais o meu her�i. Dei-me conta da sua humanidade. No transcorrer do tempo, as perdas de emprego, da juventude, da m�e. De perda em perda o vi transformando-se. A dignidade e humor intactos, mas o corpo curvado e o olhar emba�ado. O meu orgulho pelo pai her�i transformou-se em orgulho pelo homem e em imensa gratid�o e ternura.
No compasso do tempo somamos diversos e diferentes olhares. Como marca, trago para a vida um olhar atento para este mundo t�o transformado, cada vez mais violento e desumano, mundo n�o alcan�ado por meu pai. Por vezes, busco no meu �ntimo sua refer�ncia e extraio dela uma nova vis�o. Uma vis�o que me permite ter esperan�a. Esperan�a de olhares ternos, solid�rios e mais justos.
Hoje, as formas de reprodu��o dos olhares ampliaram-se atrav�s da tecnologia. Formas que nos permitem registrar momentos para a posteridade. Os meios de comunica��o ampliam os horizontes das pessoas. Mistura-se o real ao imagin�rio. Mas, os principais registros dos nossos olhares s�o aqueles que ficam do nosso cotidiano.