Michelly Kinai
Sapatos iludem, sapatos confundem. Sentada, acendia um cigarro atr�s do outro, enquanto atirava lamentos e suposi��es sobre sua amiga, que atenciosamente a ouvia sem julgamentos aparentes. Magra, de estatura mediana, cabelos longos e olhos bonitos que contrastavam com a suavidade de seu rosto, permanecia desiludida e cega, continuava a eterna busca pelo certo algu�m ideal. Talvez porque o mundo tivesse caras babacas demais, ou porque tivesse sido babaca demais com caras legais. E a vida nesse inverso reverso, onde as can��es tocavam e insistiam em dizer do valor que o ser humano n�o da quando tem na m�o, continuava sempre com Marias apaixonadas por Jo�es, que por sua vez gostavam de Anas e as trocavam por Helenas. Sendo assim, as duas amigas permaneceram l� por horas, contando casos, dissertando desilus�es e juntas num boteco compunham uma prosa composta de m�goas, expectativas falhas, mas nunca sobre casamento, fam�lia, filhos ou sobre essa doen�a social que o mundo chama de padr�o. Mais um cigarro e um �ltimo conselho vindo de uma delas � sapatos�, um dia todo mundo encontra os sapatos certos, aqueles que n�o calejam os p�s, seguros, confort�veis e sempre l�.
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