Sou de Jo�o Pessoa, na Para�ba, meus pais tinham tr�s filhos homens e queriam uma menina. Depois de 17 anos eu nasci, Maria Miranda.
Quando completei oito anos, a fam�lia veio tentar a sorte em S�o Paulo. Meus irm�os se tornaram professores. Eu, conclu�do o curso colegial, pegava o viol�o e matava as aulas do cursinho. Queria ser cantora. Apanhei. Fui quase interna, pois eles sonhavam que a �nica filha fosse professora. Naquele tempo, viol�o, m�sica e vida noturna n�o eram o ideal de uma fam�lia como a nossa, que migrou para a cidade mais rica do pa�s. Acontece que eu tinha um sonho e uma determina��o.
Eu queria ser artista, compositora, cantora. Para isso, trabalhei arduamente por quatorze anos em bares e casas noturnas e me tornei Roberta Miranda.
Em S�o Miguel Paulista, para onde viemos, descobri que Hermeto Paschoal morava na mesma rua. Fugia para a casa dele e ficava quietinha vendo ele trabalhar. Mam�e ia me buscar, pedia desculpas por eu estar incomodando, mas ele me salvava sempre, dizendo que n�o atrapalhava em nada. Eu respirava fundo e seguia atr�s do meu sonho. Aos 16 anos, comecei a cantar em bares e acabei sendo contratada para abrir os shows do Beco e do Jogral, em S�o Paulo, na �poca o reduto da Bossa Nova. Abri show para Faf� de Bel�m, Rosemary e quem mais estivesse sendo dirigido por Abelardo Figueiredo ou Augusto C�sar Vanucci.
Eu queria cantar, cantar e compor loucamente e, se poss�vel, ser ouvida e entendida. Naturalmente, apareceu um empres�rio de conversa bonita, dizendo gostar das minhas composi��es e pensando torn�-las conhecidas. Fiquei em �xtase, mas quando soube que o meu nome n�o seria citado mas que ganharia um bom dinheiro, objeto de extrema necessidade, o meu sonho falou mais alto: n�o e n�o. Quero o meu nome aparecendo.
Continuei na minha vida de crooner, at� que me aconselharam a ter cuidado com a noite, porque termina por criar alguns v�cios perigosos para o canto. Parei por tr�s anos. Enquanto isso trabalhava como maquiadora, assistente de est�dio, qualquer coisa que me permitisse comer e compor. Fiz 400 composi��es e bicos que me aproximavam dos artistas, das gravadoras, para oferecer as minhas m�sicas. At� que um dia mostrei "Majestade, o Sabi�", numa gravadora. Eles gostaram muito e resolveram gravar. Foi um super sucesso e Jair Rodrigues vendeu quase um milh�o de discos. Ainda n�o havia chegado a vez da cantora Roberta Miranda, mas a compositora fora reconhecida. Era um come�o, pensei. Finalmente, gravei o meu primeiro disco. Eu tinha tanta sede, tanta vontade de vencer que perguntei ao meu maestro, Nelson Oscar, quantos discos teria que vender para que a gravadora me desse a oportunidade de gravar o segundo disco. Ele falou: "Roberta, para voc� pagar todo os custos ter� que vender 5.000 c�pias". Eu pensei: "Vendo de porta em porta, vendo para minha fam�lia, vendo para os meus amigos", cheia de empolga��o. De repente, lancei o disco que tem a m�sica "S�o tantas coisas", como carro chefe. Viajei durante oito meses, por todo o Brasil divulgando o trabalho e um dia cheguei � f�brica da gravadora Continental e vi um caminh�o carregado de discos. Eu, na maior simplicidade, cheia de curiosidade, comentei com o carregador: "Nossa, quantos discos!...Quantos t�m a�? E ele respondeu que eram 100.000 c�pias. "Quem � o artista?", Perguntei. "� tudo seu, Roberta Miranda"...Fiquei parada, levitando, sentindo o ch�o fugir.
Depois de tanto me degladiar com o machismo, o venci �s custas do meu talento e do desafio de dizer uma frase de extrema simplicidade e de grandes implica��es. N�o � f�cil dizer EU QUERO.
A mulher nasceu com todos os requisitos para ser vencedora. S� precisa tomar conhecimento do valor que representa a coragem de querer.
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www.robertamiranda.com.br
Posted by Roberta Miranda