N�o me d�em f�rmulas certas,
porque eu n�o espero acertar sempre.
N�o me mostre o que esperam de mim,
porque vou seguir meu cora��o!


*


N�o tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
transl�cida h� muito se manchou.
H� rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar � mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paci�ncia
e n�o menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te rega�o de amante e colo de amiga,
e sobretudo for�a � que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confi�vel
cujas mar�s � mesmo se fogem � retornam,
cujas correntes ocultas n�o levam destro�os
mas o sonho intermin�vel das sereias.
(Lia Luft)


Tempo, o que temos feito contigo,
o que voc� tem feito conosco,
que passamos por voc� e voc� por n�s,
ora arrastando os alicerces que pens�vamos indestrut�veis,
ora recompondo nosso cetim de esperan�a.
Num tempo, o termos � disposi��o para fazermos tolices,
noutro somos tragados pela sua passagem repentina
e nem damos conta do valor que encerra em teus ponteiros.
Quando achamos que o temos � nossa revelia,
eis que voc� j� dobrou a curva e nem olhou pr� tr�s.
E quando mais precisamos de voc�,
no momento em que desejamos retocar uma marca
que n�o gostamos ou que n�o fica bem em nosso rosto,
- que ilus�riamente pensamos ser jovem -,
voc� j� saiu de cena e s� nos deixa
as vaias do espet�culo da vida.
Tempo, tempo, tempo, o mesmo que est� passando,
enquanto escrevo e voc� l�,
o mesmo que - se formos s�bios - refaz a m�goa,
mas enterra em definitivo a juventude, a meninice,
as horas que n�o aproveitamos por n�o sabermos
que ele � o senhor da raz�o e da emo��o.
Tempo, o que fazes conosco, o que fazemos contigo,
que n�o nos deixa um segundinho s� para rejuvenescermos
e, ilus�o, para pensarmos que somos donos de voc�.