Amor Epid�rmico
Seus pais foram jantar fora e deixaram o apartamento s� para voc�, seu namorado e a tev� a cabo. Que inconseq�entes! Em menos de um minuto voc�s deixam a televis�o falando sozinha e v�o ensaiar umas cenas de amor no quartinho dos fundos. De repente, escutam o barulho da fechadura. Seu pai esqueceu o tal�o de cheques. Passos no corredor. Antes que voc� localize sua camiseta, sua m�e se materializa na porta. Parece que ela est� brincando de est�tua, mas n�o resta d�vida que entrou em estado de choque. Voc� diz o qu�? M�e, a carne � fraca.
A desculpa � esfarrapada mas � leg�tima. Nada � mais vulner�vel que nosso desejo. Na luta entre o c�rebro e a pele, nunca d� empate. A pele sempre ganha de W.O.
Voc� planeja terminar um relacionamento. Chegou � conclus�o que n�o quer mais ter a seu lado uma pessoa distante, que n�o leva nada � s�rio, que vive contando piadinhas preconceituosas e que n�o parece estar muito apaixonado. Por que levar a hist�ria adiante? Melhor terminar tudo hoje mesmo. Marca um encontro. Ele chega no hor�rio, voc� tamb�m. Come�am a conversar. Voc� engata o assunto. Para sua surpresa, ele ficou triste. N�o quer se separar de voc�. E para provar, segura seu rosto com as duas m�os e tasca-lhe um beijo. Danou-se.
Onde foram parar as teorias, os di�logos que voc� planejou, a decis�o que parecia irrevog�vel? Tomaram Doril. Voc� agora est� sob os efeitos do cheiro dele, est� rendida ao gosto dele, est� ligada a ele pela derme e epiderme. A grava��o do seu celular informa: seus neur�nios est�o fora da �rea de cobertura ou desligados.
Isso nunca aconteceu com voc�? Reluto entre dar-lhe os parab�ns ou os p�sames. Por um lado, � �timo ter controle absoluto de todas as suas a��es e rea��es, ter for�a suficiente para resistir ao pr�prio desejo. Por outro lado, como � bom dar folga ao nosso racioc�nio e deixar-se seduzir, sem ficar calculando perdas e danos, apenas dando-se ao luxo de viver o seu dia de Pigmale�o.
A carne � fraca, mas voc� tem que ser forte, � o que recomendam todos. Tente, ao menos de vez em quando, ser sexualmente vegetariano e n�o ceder �s tenta��es. Se conseguir, bravo: ter� as r�deas de seu destino na m�o. Mas se n�o der certo, console-se. Criaturas que derretem-se, entregam-se, consomem-se e n�o sabem negar-se costumam trazer um sorriso enigm�tico nos l�bios. Alguma recompensa h� de ter.
Martha Medeiros
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