A Vulgar Que Passou

N�o eras para os meus sonhos, n�o eras para a minha vida,
nem para os meus cansa�os perfumados de rosas,
nem para a impot�ncia da minha raiva suicida,
n�o eras a bela e doce, a bela e dolorosa.
N�o eras para os meus sonhos, n�o eras para os meus cantos,
n�o eras para o prest�gio dos meus amargos prantos,
n�o eras para a minha vida nem para a minha dor,
n�o eras o fugitivo de todos os meus encantos.
N�o merecias nada. Nem o meu �spero desencanto
nem sequer o lume que pressentiu o Amor.
Bem feito, � muito bem feito que tenhas passado em v�o
que a minha vida n�o se tenha submetido ao teu olhar,
que aos antigos prantos se n�o tenha juntado
a amargura dolente de um est�ril chorar.
Tu eras para o imbecil que te quisesse um pouco.
(Oh! meus sonhos doces, oh meus sonhos loucos!)
Tu eras para um imbecil, para um qualquer
que n�o tivesse nada dos meus sonhos, nada,
mas que te daria o prazer animal
o curto e bruto gozo do espasmo final.
N�o eras para os meus sonhos, n�o eras para a minha vida
nem para os meus quebrantos nem para a minha dor,
n�o eras para os prantos das minhas duras feridas,
n�o eras para os meus bra�os, nem para a minha can��o.

Pablo Neruda

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