Duas historinhas que envolvem o amor
Uma mulher namora um pr�ncipe encantado por dois meses e ent�o descobre que ele n�o � pr�ncipe porcaria nenhuma, e sim um bobalh�o que n�o soube equalizar as diferen�as e sumiu no mundo sem se despedir. Mais um, segundo ela. S�o todos assim, os homens. Ela resmunga que n�o d� mesmo para acreditar no amor.
Pera�. Por que o amor tem que levar a culpa por esses desencontros? Que a princesa n�o acredite mais no Pedro, no Paulo ou no Paf�ncio, v� l�, mas responsabilizar o amor pelo fim de uma rela��o e n�o querer mais se envolver com ningu�m � pregui�a de continuar vivendo. N�o foi o amor que caiu fora. Ali�s, ele talvez nem tenha entrado nessa hist�ria. Quando entra, � para contribuir, para apimentar, para dar sabor, para ser feliz. Se o relacionamento n�o d� certo, ou d� certo por um determinado tempo e depois acaba, o amor merece um aperto de m�os, um muito obrigada e at� a pr�xima. Fique com o cart�o dele, com os contatos todos, voc� vai cham�-lo de novo, vai precisar de seus servi�os, esteja certa. Dispense namorados, mas n�o dispense o amor, porque este estar� sempre a postos. Viver sem amor por uns tempos � normal. Viver sem amor para sempre � azar ou incompet�ncia. Mas n�o pode ser uma escolha, nunca. Escolher n�o amar � suic�dio simb�lico, � n�o ter raz�o para existir. N�o me venha falar de amigos e filhos e cachorros, essas compensa��es amorosas sofisticadas, mas diferentes. Estamos falando de homens e mulheres que n�o se conhecem at� que um dia, uau. Acontece.
Segunda hist�ria. Uma mulher ama profundamente, � amada profundamente, os dois dormem embolados e se gostam de uma forma indecente, de t�o certo que d� a rela��o, e de t�o gostosa que s�o inclusive as brigas. Tudo funciona como um rel�gio que ora atrasa, ora adianta, mas n�o p�ra, um tiquetaque excitante que ela n�o divulga para as amigas, n�o espalha, adivinhe por qu�: culpa. Morre de culpa desse amor que funciona, desse amor que � desacreditado em mat�rias de jornal e em pesquisas, desse amor que deram como morto e enterrado, mas que na casa dela vive cheio de g�s e amea�a ser eterno. Culpa, a pobre mulher sente, e mais: sente medo. Nem sabe de qu�, mas sente. Medo de n�o merec�-lo, medo de perd�-lo, medo do dia seguinte, medo das estat�sticas, medo dos exemplos das outras mulheres, daquele mulher l� do in�cio do texto, por exemplo, que se iludiu com mais um bobalh�o que desapareceu sem deixar rastro-ou bobalhona foi ela, nunca se sabe. Mas o fato � que terminou o amor da mulher l� do in�cio do texto, enquanto essa criatura feliz e apaixonada, � ao mesmo tempo infeliz e temorosa porque sente aquilo que tanta gente busca e pouco encontra: o tal amor como se sonha.
Uma mulher infeliz por amar de menos, outra infeliz por amar demais, e o amor injustamente crucificado por ambas. Ele, coitado, sendo acusado de provocar dor, quando deveria ser reverenciado simplesmente por ter acontecido na nossa vida, mesmo que sua passagem tenha sido breve. E se n�o foi, se permaneceu em nossa vida, a� nem se fala. Qualquer amor-at� aqueles que a gente inventa- merece nossa total indulg�ncia, porque quem costuma estragar tudo, car�ssimos, somos n�s.
Martha medeiros