
HOMENAGEM AO NOSSO POETA ETERNO
CARLOS DRUMOND DE ANDRADE
que hoje faria110 anos.

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas cal�adas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida
� porosidade e comunica��o.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes.
E o h�bito de sofrer, que tanto me diverte,
� doce heran�a itabirana.
De Itabira trouxe prendas que ora te ofere�o:
este S�o Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sof� da
sala de visitas; este orgulho, esta cabe�a baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcion�rio p�blico.
Itabira � apenas uma fotografia na parede.
Mas como d�i!
Carlos Drummond de Andrade.
(Do livro SENTIMENTO DO MUNDO)

AUS�NCIA
"Por muito tempo achei que a aus�ncia � falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje n�o a lastimo. N�o h� falta na aus�ncia.
A aus�ncia � um estar em mim. E sinto-a, branca,
t�o pegada, aconchegada nos meus bra�os,
que rio e dan�o e invento exclama��es alegres,
porque a aus�ncia, essa aus�ncia assimilada,
ningu�m a rouba mais de mim."
Carlos Drummond de Andrade
